Especialista fala sobre as tradições e história da culinária no estado e dá a receita de um prato típico: Canjiquinha com Costelinha
Reconhecida nacional e internacionalmente, a culinária mineira é celebrada em 05 de julho, o Dia da Gastronomia Mineira. A data comemora, divulga e valoriza a rica cozinha de Minas Gerais, resultado da mistura de influências portuguesas, africanas e indígenas. Foi essa diversidade étnica que deu origem à culinária mineira, que ao longo de seus mais de 300 anos de história, mantém traços de cada uma dessas culturas.
A culinária mineira é conhecida por sua diversidade de sabores e elementos provenientes das diferentes culturas e regiões de Minas Gerais. Desde os queijos aos azeites, do café à cachaça, dos menus sofisticados aos mexidos, dos petiscos de boteco às quitandas simples e cheias de afeto, a gastronomia de Minas Gerais é um verdadeiro tesouro cultural e um importante fator de desenvolvimento econômico, social, turístico e cultural para o Estado.

O Dia da Gastronomia Mineira tornou-se oficial em 2012, em homenagem ao aniversário de Eduardo Frieiro, professor da Universidade Federal de Minas Gerais e fundador da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa. O escritor e sociólogo é o autor do livro “Feijão, angu e couve – Ensaio sobre a comida dos mineiros“. A obra, lançada em 1966, foi o primeiro livro dedicado a compreender e reverenciar a culinária de Minas Gerais, abordando a complexidade das influências recebidas e dos sabores típicos da gastronomia do estado.
Segundo Marcus Monteiro, especialista e docente do Curso Superior em Tecnologia da Gastronomia do Senac, as tradições são os principais diferenciais da gastronomia mineira. Segundo ele, “É esse conjunto de comportamentos à mesa, relacionados com o que e como comemos que eu considero algo único que nos identificam como mineiros. Nossos hábitos alimentares e as formas de comer são bem peculiares e atuam como uma maneira de nos apresentarmos aos demais brasileiros.” Monteiro explica, ainda, que indígenas, europeus e africanos deixaram marcas de suas culturas e hábitos no modo de ser do mineiro.
“Comemos milho ou mandioca porque os indígenas comiam. Comemos frango e porco, ou queijo e doces, porque o português comia. Comemos quiabo, feijões ou coco, porque o africano comia. O angu que é servido com frango com quiabo é uma preparação que representa muito bem estes povos formadores do brasileiro das Minas Gerais. Esta representação, de certa forma romantizada, apenas introduz a riqueza e variedade do que se come por aqui.”
Marcus Monteiro – Docente do Curso Superior em Tecnologia da Gastronomia do Senac
O docente destaca a abundância de sabores da gastronomia mineira. “As carnes, como frango, porco ou boi, ensopadas lentamente num fogão à lenha, as verduras refogadas, que dominam os canteiros nos quintais, as frutas que, passadas suas estações, se transformam em conservas como os doces em calda, de tachos ou cristalizados.”

Gastronomia Mineira é tema de eventos gastronômicos
A gastronomia mineira é amplamente valorizada e preservada por meio de diversos eventos gastronômicos. Festivais, feiras e concursos preenchem o calendário, proporcionando uma variedade de programas para os mineiros e visitantes. Desde eventos locais, como a Festa do Café com Biscoito em São Tiago e o Festival da Quitanda em Congonhas, até os renomados concursos Comida di Buteco e Botecar em Belo Horizonte, e o icônico Festival Fartura em Tiradentes, a cultura alimentar de Minas Gerais é celebrada e apreciada.
Marcus Monteiro destaca a importância de inovar e dinamizar a gastronomia mineira, sem perder sua identidade e tradição. “Tradições só sobrevivem se evoluírem. E inovar não significa que a comida deve perder seus status de tradicional. O conceito de inovar, quando se fala em comida mineira, está muito mais associado a reviver do que modernizar. Temos inovação ao valorizar o rústico, em focar numa região e dar destaque às suas comidas, em resgatar um alimento e explorar novas formas de preparo e consumo“, enfatiza.

Para ele, a área de gastronomia é multidisciplinar e os cursos de formação ou qualificação no segmento devem contemplar conhecimentos práticos e teóricos de áreas distintas como História, Administração, Direito, Psicologia, entre outros, sem deixar a abordagem prática das cozinhas. “Uma escola de gastronomia deve contribuir com o desenvolvimento da sociedade e comunidade na qual está inserida. Cada estudante, ao ingressar no mercado de trabalho, deve atuar como agente de promoção da cultura e tradição locais, através da sua atuação profissional”, completa.
Como receita representativa da gastronomia de Minas, Monteiro escolhe a Canjiquinha com Costelinha de Porco, elaborada pelo chef professor do Senac, Adriano Vilhena. “O prato que mostra muito bem o que Minas é.” E cita uma passagem do livro “Feijão, angu e couve” de Eduardo Frieiro, para justificar a escolha.
“O mineiro planta o milho e cria o porco, o porco come o milho e o mineiro come o porco.”
Eduardo Frieiro, no livro “Feijão, angu e couve”

Canjiquinha com costelinha
Rendimento 2 porções
Ingredientes
- 400 gr. Costela de porco cortada entre os ossos
- 150 gr. Canjiquinha de milho
- 2 unidades de Tomate maduro cortado em pedaços pequenos
- 2 colheres de sopa de Banha de porco
- 2 ramos de salsinha repicados
- 2 ramos de cebolinha repicadas
- Sal e pimenta do reino preta moída a gosto
- Água, fundo de legumes ou fundo de carne a gosto
Modo de fazer:
1) Temperar a costela de porco com sal e pimenta do reino moída.
2) Colocar a canjiquinha de molho em água fria. Antes de usar, dispensar a água do molho.
3) Numa panela de fundo grosso, aquecer a banha de porco e dourar uniformemente os pedaços de costela. Importante não deixar queimar.
4) Adicionar água (ou fundo de legumes ou carne). Deve ser o suficiente para cobrir toda costelinha e sobrar.
5) Cozinhar em fogo médio com a panela semi-tampada. Se necessário, adicionar mais líquido durante o cozimento.
6) Quando a costela estiver bem macia, adicionar a canjiquinha e manter o cozimento até que a canjiquinha esteja bem cozida. Durante o cozimento, mexer ocasionalmente para não grudar no fundo da panela.
7) Para finalizar, adicionar o tomate, as ervas picadas e ajustar o tempero.