
De acordo com arquiteto, espaços urbanos deverão ser mais integrados à natureza
Não há dúvida. A crise da Covid-19 e os meios para combatê-la deixarão um legado que promete mudar o comportamento do ser humano, a rotina das pessoas e o ambiente que nos cerca. Após a pandemia, aspectos como o distanciamento social e medidas de prevenção para evitar a epidemia e/ou pandemia de outras doenças vão influenciar o modo como nos relacionamos e a forma como interagimos com os espaços urbanos.
Especialista no assunto, o arquiteto e urbanista Pedro Lira prevê que as cidades se integrarão mais à natureza. As medidas de isolamento social expuseram a insustentabilidade da atual relação entre espaços urbanos e naturais. Uma nova forma de relação com o meio ambiente será fundamental para a sociedade investir em qualidade de vida + longevidade + saúde.
Criando um urbanismo mais saudável
Uma pesquisa realizada por Marshall Burke, professor do Departamento de Ciências do Sistema Terrestre da Universidade de Stanford mostrou que, após o início das medidas de combate ao coronavírus, a China observou uma queda radical nas taxas de poluição do ar, o que pode ter salvado a vida de aproximadamente 50.000 pessoas.
Tal alegação parece não ser novidade, mas foi preciso uma pandemia para que a levássemos a sério.
Pedro Lira = Sócio Fundador do Natureza Urbana + Consultor para espaços públicos da United Nation Office for Planning Services (UNOPS) + Representante do Brasil no Comitê de Cidades Emergentes World Urban Parks (WUP)

Natureza Urbana analisou o que será tendência após a pandemia
Em suas redes sociais, o escritório Natureza Urbana questionou quais seriam os locais mais frequentados após a Covid-19. As respostas foram dadas, princialmente, por seguidores de Minas Gerais = 11%; Ceará = 10%; Bahia = 10%; São Paulo = 8% e Pernambuco = 8%.
55% das respostas apontaram que parques e praças serão os locais mais procurados, seguidos por bares e restaurantes = 22% + os espaços para pedestres em geral = 17%. Apenas 6% responderam que frequentariam os shoppings.
Quando questionados a respeito do impacto da pandemia sobre os meios de transporte, 65% dos respondentes apostaram que o deslocamento individual será priorizado. Isso significa se locomover a pé, de bicicleta ou com um veículo próprio. Enquanto isso, 23% afirmaram que irão evitar deslocamentos. Apenas 12% disseram que irão buscar mais os ônibus e o metrô. Nesse último caso, 65% dos respondentes têm entre 18 e 24 anos.
As enquetes do Natureza Urbana também analisaram as perspectivas dos internautas para os espaços de trabalho em tempos pós-Covid. Nesse caso, 81% dos respondentes acreditam que haverá mudanças permanentes e 72% acham que haverá uma redução na demanda por edifícios de escritórios.
E quando perguntados sobre novos hábitos, os seguidores apontaram a popularização do home office + das compras on-line + do ensino a distância. Ao mesmo tempo, foi relevante a demanda por espaços públicos novos e mais amplos.
Os resultados fortalecem a ideia de que a criação de mais parques equipados, associados a equipamentos de interesse público, sejam eles escolas, mercados, bibliotecas ou outras instituições que possam estender suas atividades ao espaço livre seja uma solução, principalmente em grandes centros áridos como São Paulo.
Pedro Lira
Impacto na mobilidade
Ouvidos pela Natureza Urbana, os internautas apontaram uma maior necessidade por infraestrutura que permita a mobilidade ativa. Um exemplo são as ciclovias e os espaços voltados para pedestres. Assim será possível reduzir o uso de veículos movidos por combustíveis fósseis. Consequentemente, haverá a redução nos índices de poluição.
Faz-se necessário implantar uma rede contínua de espaços livres de fato, composta por eixos caminháveis e cicláveis associados a praças e parques. Para tal, transformar parte de nossas ruas em espaços para a mobilidade ativa e de lazer para o pedestre, em todos os bairros, pode ser solução de implantação rápida e barata.
Pedro Lira
Algo parecido com o que é proposto por Lira está sendo feito em Barcelona. Na cidade, as vias serão redesenhadas. Assim, após o confinamento, as distâncias de segurança continuarão sendo mantidas entre os cidadãos. As calçadas serão alargadas e demarcadas com tinta. O objetivo é favorecer o deslocamento alternativo aos carros. Iniciativas semelhantes estão sendo adotadas em cidades como Milão + Paris + Nova York.
O escritório Natureza Urbana, que tem Pedro Lira como sócio fundador. A empresa também atua em obras como as que serão executadas em Barcelona. Tendo sustentabilidade como objetivo, já atuou em projetos públicos e privados em 15 estados brasileiros. Isso inclui áreas urbanas e em espaços naturais.
[As tendências pós-pandemia] indicam que parte das soluções já estão presentes no nosso dia a dia há muito tempo, desde repensar o modelo de ocupação do território ao tipo de comida que é colocada em nossos pratos; mas nunca houve a coragem de implantá-las.
A pandemia é resultado do excesso de pressões que exercemos sobre o ecossistema. Se não mudarmos a nossa relação com o planeta, outras virão com maior impacto. Devolver espaço à natureza em nossas vidas é a grande solução.
Pedro Lira