O Brasil não tem um dos famosos ‘cemitérios de aviões’ como acontece nos Estados Unidos e em outros países. Nossa memória aérea também vem se exaurindo em casos como o Museu da Varig, no Salgado Filho, em Porto Alegre, e o próprio Museu da TAM, em São Carlos, no interior paulista.
Uma outra cena comum chama a atenção de quem decola ou aterrissa em alguns dos principais aeroportos do país, casos específicos de Brasilia, Galeão no Rio e GRU em Guarulhos (SP). Carcaças de aviões de companhias falidas dividem o cenário com o vaivém de aeronaves e e estão deteriorando-se com o tempo, além de uma imagem falida e de péssimo visual..
A maioria desses aviões ainda não foi leiloada, mas alguns foram arrematados há anos e esperam ser retirados pelos novos proprietários, que alegam alto custo de transporte e mudanças nos planos de negócios como principais motivos para o atraso na remoção.
Existem 12 aviões não leiloados nos aeroportos brasileiros. Sete estão no Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, três no Galeão, um no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP) e um no Aeroporto Antônio João, em Campo Grande.
Levantamento da Agência Brasil indica que em pelo menos três aeroportos existem aviões leiloados e não removidos dos terminais aéreos. Duas aeronaves em Brasília, quatro no Galeão e duas em Cumbica que poderiam ter sido retiradas permanecem ocupando espaço nos pátios e hangares.
No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, na capital federal, dois Boeings 767 da Transbrasil leiloados em setembro de 2013 aguardam para serem retirados. Das duas que estão no aeroporto de Guarulhos, uma foi arrematada pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e outra, por particular.
O consórcio que administra o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, informou que existe um avião da Vasp e mais seis aeronaves antigas no local. De acordo com levantamento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), três aviões parados no Galeão ainda não foram leiloados. Os quatro restantes estão em processo de remoção.
Em um período de quatro anos, de 2011 a 2015, o CNJ promoveu o programa ‘Espaço Livre’, que agilizou o leilão de 50 das 62 carcaças de aviões em 11 aeroportos do país. Realizado em parceria com vários órgãos, o mutirão conseguiu leiloar 80% das aeronaves abandonadas. Porém, nem todas foram retiradas até agora.
Em alguns casos, quem arremata a aeronave não entende que ela foi leiloada como sucata e que não pode utilizá-la para outros fins. O proprietário então retira algumas peças e deixa a casca. Se não houver acordo, o aeroporto pode entrar na Justiça para exigir a remoção
Proprietário de um Boeing 737 da Vasp e de um Boeing 767 da Transbrasil leiloados no aeroporto de Brasília, o empresário Rogério Tokarski diz que o custo de transporte também é um entrave porque equivale, no mínimo, ao preço do avião. No caso do 737, de menor porte, ele gastou R$ 60 mil para comprar a aeronave e mais R$ 60 mil para transportá-la a um haras na região rural de Planaltina (DF), a 70 quilômetros da capital federal.
“É preciso três carretas para transportar o avião: uma para cada asa e outra para o charuto [corpo da aeronave]. Além disso, tem o guindaste para fazer a desmontagem e as taxas para o Departamento de Estradas e Rodagem, pelo transporte da carga especial, para a companhia de energia se for necessário desligar fiações de eletricidade”, justifica.
Em relação ao avião da Transbrasil, comprado por cerca de R$ 90 mil, Tokarski diz que pediu à Inframérica, consórcio que administra o Aeroporto Juscelino Kubitschek, um tempo adicional para retirar a aeronave.
O empresário pretende transformar a carcaça em um espaço turístico, mas explica que a necessidade de um plano de negócios viável e de encontrar um local lucrativo adiou a remoção.