Você e eu entramos na última etapa desta viagem inesquecível pela Civil Rights Trail, no Sul dos Estados Unidos

Diário de viagem, 12 de outubro de 2018
Depois de sair do Texas fazendo de carro um percurso épico pelas estradas da Louisiana + Mississippi + Tennessee + Georgia, entrei ontem no estado do Alabama, seguindo em direção aos mais intensos pontos de conflito na luta pela igualdade racial de meados do século 20.

As histórias e imagens dramáticas registradas nesta região foram mostradas ao mundo inteiro e serviram como alavanca para mudar o status quo de um período no qual o preconceito, o desrespeito pelo ser humano, a violência física e psicológica, os linchamentos, os ataques e assassinatos de afro americanos chegaram a ser um padrão da sociedade.
Meu roteiro pela Civil Right Trail no estado do Alabama começou em Anniston. Cheguei a noite na cidade e encontrei-a tranquila e silenciosa. Com pouco mais de 20.000 habitantes, a visão de serenidade reinante na cidade do Deep-South norte-americano em nada remetia aos fatos que se sucederam. Dentro da Trilha dos Direitos Civis, Anniston remete aos Freedom Rides – os Viajantes da Liberdade.
Esses homens e mulheres, brancos e negros, ativistas na luta pelos Direitos Civis, tinham como estratégia embarcar nos ônibus que ligavam as cidades do Sul dos Estados Unidos para protestar contra a segregação racial a bordo. O trajeto que acabara de concluir, ligando Atlanta a Anniston, foi uma dessas viagens que os Freedom Rides tornaram histórica.
Era o dia 14 de maio de 1961 e, ao chegar justamente aqui, em Anniston, o ônibus foi recebido por uma multidão enfurecida que quebrou as janelas, cortou os pneus e, não satisfeitos, membros da Ku Klux Klan jogaram coquetéis Molotov dentro dos ônibus e tentaram impedir que as pessoas saíssem de dentro do veículo.
Neste dia, ninguém morreu e mesmo ameaçados, os Viajantes da Liberdade não desistiram de continuar a protestar, sem violência, pelas estradas do Sul dos Estados Unidos.
Quem percorre a Civil Right Trail segue a trilha dessa história.
Minha passagem por Anniston abriu um cenário novo diante da questão racial. E entre um e outro museu eu sigo conhecendo um pouco da cidade e dos costumes locais.

O mais antigo saloon do Alabama fica em Anniston
Na sexta-feira a noite, assim que entrei em Anniston fui direto para o meu 1º compromisso na cidade. Visitei o mais antigo saloon do Alabama, ainda em funcionamento.

É o Peerless Saloon, que só não tinha aquela portinhola dos saloons que a gente vê nos filmes. No mais o cenário é característico.

O balcão encerado e as pessoas diante dele; o alvo de dardos preso à parede; a mesa de sinuca e as mesinhas redondas em volta; o ambiente na penumbra e a música country como fundo musical.
Berman Museum exibe armas que participaram da história dos EUA
No sábado visitei o Berman Museum, que tem uma extraordinária coleção de armas antigas, desde o tempo da colonização americana. Vi os famosos revólveres Colt, Smith & Wesson, e as espingardas Winchester. Definitivamente não curto armas mas admirei cada detalhe do design e do acabamento das peças.

No segundo andar estão as armas e uniformes dos exércitos que lutaram na 2ª Guerra Mundial. As jaquetas de couro e os óculos dos aviadores britânicos, para mim, foi o momento fashion da visita. As demais salas expunham todo tipo de armas pesadas e ainda revólveres, metralhadoras, máscaras anti gás e granadas, entre muitas outras.

Entretanto, no instante em que entrei na sala do exército alemão, me senti muito desconfortável, incomodada mesmo, ao ver flâmulas e bandeiras com grandes suásticas estampadas nelas. Ao lado, sobre um cavalete, em destaque, havia uma pintura a óleo, um retrato, do homem que comandou a Alemanha, criou o Terceiro Reich e foi o responsável pelo holocausto. O homem cujo nome eu me recuso a escrever.

De repente foi, para mim, impossível estar na mesma sala com este personagem que ajudou a escrever um trecho hediondo da história mundial, que escolhi deixar o museu e peguei a estrada rumo a Birmingham.

Você escreve para minha alma, melhor do que os meus olhos me mostram…Parabéns Claudinha. Obrigado por compartilhar conosco toda esta vivência. Abs.
Mauri, obrigada pelas palavras tão belas e pelo presente maior: conseguir chegar a alma do leitor! Grande abraço!