Na Sala VIP do Aeroporto de Mumbai, fiz um balanço dos dias em que passei no país
Minha viagem pela Índia terminou e, na Sala VIP do aeroporto de Mumbai, fiz um balanço dos dias em que passei no país. Tentei espremer o tempo ou reparti-lo em atividades simultâneas. Me esforcei para dividir os segundos e usar cada um dos seus décimos da melhor maneira possível. Ao final da viagem, concluí que consegui conhecer apenas o minimamente necessário.
Enquanto esperava pelo meu voo, abri o meu diário de viagens que sequer percebeu que aterrissou na Índia, a não ser pelo mapa que desenhei no dia em que parti. Olhei para o desenho. No meu caderno, a Índia parecia um saco vazio. Um triângulo murcho, virado de ponta cabeça, cheio de nada. Maravilhosa ilusão! A Índia contém o infinito. Tudo nela cabe. Ela é maior do que o mundo, maior que o Google, até. Portal do Universo Paralelo, ela é terra dos 330 milhões de deuses mais coloridos que um musical (com final sempre feliz) de Bollywood.
Apoteótica como o mais pagão dos carnavais, ela é mágica. É, ao mesmo tempo, o encantador e a víbora. Uma naja cuspideira de flores e dores e tudo quanto o visitante puder encarar, lá dentro, nos olhos da serpente. Veneno e antídoto, decadência e redenção, seria a terra da Fênix, se não fosse o reino de Shiva.
Deixei para trás o Terminal 1 do Chattrapathi Shivaji International Airport que, mesmo na alta madrugada continuava em ebulição. Consegui atravessar a multidão, entrei na ponte de embarque e fiquei feliz ao ver a porta do avião. A partir daquele momento, dali até o Brasil, teria horas de sobra para escrever tudo o que a falta delas, ou o excesso de belezas não me permitiu fazer durante a minha viagem pela Índia. Seriam 8 horas até Zurique, mais 12 horas na Sala VIP do aeroporto suíço, mais 11 horas de voo até São Paulo. Que maravilha!
Gulosa, acomodei-me rapidamente na poltrona 4G e abri meu diário, pronta para saciar minha vontade de escrever e encher as páginas com as minhas visões do país. Com a caneta em riste, observei o avião preparando para taxiar, mas meus olhos não encararam sequer a decolagem. Acordei com o avião aterrissando na Suíça…