Começo hoje a publicar o meu diário de viagem pela Transcaucásia, ou Cáucaso Sul = Azerbaijão + Georgia + Armênia
Diário de Viagem, Aeroporto Internacional de Doha, Qatar
Decolei do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e depois de quase 16 horas de voo aterrissei no aeroporto de Doha, nos Emirados Árabes.
Foram 7 horas de espera pela conexão que me levaria a Baku, capital do Azerbaijão. O tempo foi providencial pois permitiu que eu conhecesse o lugar, em seus mais icônicos detalhes.
Aterrissar no Aeroporto de Hamad, o Aeroporto Internacional de Doha é se sentir em um episódio de Star Wars. Ele, por si só, já mostra que entramos em um outro mundo. Moderníssimo, parece um palácio futurista.
Seu projeto de iluminação usa focos de luzes dirigidas, proporcionando um conforto visual para quem circula pelo seu interior. Durante o dia, a visão ganha o aconchego da luz natural, que entra através de imensos paredões de vidro ou por claraboias de formatos instigantes.

Se você observa o ambiente do aeroporto, de pé direito gigantesco, notará que alguns espaços – como os lounges de descanso e relaxamento – ficam na penumbra, enquanto outros – como lojas, restaurantes e áreas de circulação – estão sob o foco de luzes aveludadas.

Embora constantemente cheio – ondas de viajantes desembarcam a cada minuto vindas de todos os cantos do planeta – a impressão que temos é a que há poucas pessoas em seu interior. O motivo é a escala do projeto. Os corredores e as esteiras de circulação, as salas de embarque, os lounges, os cafés – tudo é tão grande – que a multidão se espalha e dissolve em seu interior.

O mesmo acontece com o som. O tratamento acústico absorve ruídos desnecessários e o resultado é um silêncio muito parecido com o das catedrais. O aeroporto não tem avisos sonoros, a não ser no interior das salas de embarque, o que deixa o ambiente ainda + cômodo.
E as lojas e restaurantes são uma amostra do que há de melhor no mundo. Boutiques de grifes francesas, italianas, norte-americanas, árabes e britânicas seduzem os consumidores internacionais.
Grandes e silenciosas esteiras ajudam o viajante se deslocar no monumental ambiente. Sobre sua cabeça há um mezanino onde, de tempos em tempos circula um trem de monotrilho que, de tão silencioso passa despercebido a não ser para viajantes, como eu, embasbacados com tamanho luxo arquitetônico, resolvam escanear com o olhar cada centímetro do lugar.

Agora, o que insere um ar surreal ao ambiente é justamente a realidade concreta da multidão em seu interior. Vestindo túnicas impecáveis de um branco imaculado – as chamadas Thobe – homens de negócios árabes deslizam sobre o piso negro. A parte de cima de suas túnicas lembra uma camisa de executivos ocidentais, com golas pontiagudas e um bolso lateral, onde sempre repousa uma caneta de ouro ou de laca escura, em geral combinando com as caras abotoaduras. Eles calçam sandálias abertas – as Na-aal – ao invés de sapatos e não carregam nada além de uma fina e elegante pasta de couro.
No outro extremo deste espectro humano, há o viajante mais simples de todos. Pelo porte físico, grossura dos dedos e aspecto das mãos é possível pensar que são trabalhadores braçais. Pelo olhar curioso, algumas vezes triste ou preocupado, é também possível imaginar que estejam viajando entre mundos, a procura de um melhor mercado de trabalho, ou, já contratados, seguem para um novo destino em busca de uma vida melhor. São indianos, filipinos, malaios, paquistaneses, chineses e até brasileiros. Eles usam roupas bem simples, de tecidos grossos e desgastados, carregam mochilas pesadas, sacolas ou sacos de plástico preto.
E entre esses extremos há os viajantes solitários de todas as raças, cores e perfis sociais imagináveis; as famílias, de todos os tamanhos; grupos de amigos celebrando uma viagem em conjunto; e muitas, muitas excursões, com pessoas que não se conhecem, seguindo, como uma quilométrica centopeia, o guia lá na frente.