Tudo o que você precisa saber antes de aterrissar na capital do Egito
O Egito é um presente do Nilo. Quando você aterrissar no Noroeste da África para visitar o Egito, provavelmente esta será a frase mais recorrente durante a sua viagem. É assim que um egípcio costuma apresentar seu país a um visitante. E é claro que nós, como visitantes, nos sentimos também presenteados e agradecemos ao lendário rio pelos tesouros que vamos começar a ver de perto.
Quem pensa no Rio Nilo imediatamente lembra do Egito, e vice-e-versa. Mas com seus quase 6.700 km de extensão, o Nilo que, junto com o Amazonas é considerado o mais longo do mundo, passa por outros países da África como o Burundi, Congo, Etiópia, Eritreia, Quênia, Ruanda, Sudão, Tanzânia e Uganda. Está aí um rio que viaja!
Graças ao Rio Nilo os egípcios criaram uma civilização rica que estendeu ao longo de suas margens. E entrar no mundo dos faraós e dos antigos egípcios é o objetivo principal do viajante que desembarca no país. Mas entre tantas maravilhas, a cidade do Cairo merece reverência, respeito e uma atenção especial.Antiga como ela, só mesmo procurando nos livros de história. No Cairo, o tempo não é medido em séculos e sim em milênios! A cidade, na época dos gregos já era uma atração turística. Dá para imaginar o que isso significa?
Os roteiros clássicos ainda são os mais procurados pelo viajante que pela 1ª vez vai ao Egito. E todos esses roteiros necessariamente visitam o Cairo, capital do país. E quando eu digo Roteiro Clássico eu literalmente me refiro ao Período Clássico da História Universal, ou seja, a época em que os Gregos criaram as bases filosóficas, estéticas e políticas da Civilização Ocidental.
Para você ter uma ideia, no Século 5 a.C. o viajante e historiador grego Heródoto deixou registradas as suas impressões depois de uma viagem ao Cairo, a Terra dos Faraós. Muitos milhares de anos depois, mais precisamente em 1869, o inglês Thomas Cook, o pai do turismo moderno preparou a 1ª excursão para o Egito. Ela incluiu um cruzeiro pelo Nilo e, obviamente uma visita ao Cairo.
De lá para cá, os roteiros mantiveram-se praticamente inalterados. Existem, é claro, programas exclusivos, onde o viajante escolhe a dedo, suas atrações diárias. Ainda no Século 21, se você optar por embarcar em uma excursão básica pelo Egito, seu roteiro será riquíssimo em conteúdo. Provavelmente você vai visitar as cidades de Luxor, Edfu, ou Assuã. Você pode acrescentar Alexandria e outras.
Pelo caminho você vai se deparar com muitas tumbas, pirâmides, templos e monumentos. E mesmo fazendo parte de um roteiro maior, a cidade do Cairo, graças à sua riqueza e história magníficas, deve ser apreciada como uma viagem à parte.
Seu coração vai disparar ao aterrissar no Cairo
A cena é de uma estranheza que faz disparar o coração de quem chega ao Cairo pela 1ª vez. Na pista de uma rodovia de alta velocidade, cortando a cidade com rapidez, você vai se assustar com a visão, que mais parece uma miragem. Ao fundo, distinguindo-se dos arranha-céus, perfil natural de uma metrópole do século 21 com mais de 16 milhões de habitantes, surge a imagem emblemática das Pirâmides de Gizé.
Pesadas, gigantescas, atarracadas sobre a areia do deserto, elas se transformam num marco que separa o Pós-Moderno do quase Pré-Histórico. Exageros à parte, são pouquíssimos quilômetros de distância que afastam a atual Cidade do Cairo da Cairo de milhares de anos atrás. O choque, sentido por nós, viajantes, envolve cultura, tempo, espaço, civilizações e história.
O contraste das míticas construções piramidais, ali, cercada por inexpressivos prédios de vidro espelhado e letreiros de lojas de fast-food é fortíssimo. Num segundo e as pirâmides, cujas imagens a gente se acostumou a ver em todo tipo de mídia, se transformam em um colosso de outro mundo e abrem um portal para uma outra dimensão. Essa sensação inusitada mostra o fantástico poder de preservação e renovação da capital do Egito. Poucas cidades conseguiram o feito de manter-se viva, orgânica e ativa, após tantos milhares de anos e só isso já faz dela uma cidade única.
O planeta Marte ajudou a batizar a cidade…
A Cidade do Cairo foi construída sob a orientação de astrólogos. Quando eles viram nos céus um sinal do planeta Marte, chamados por eles de Al-Qahir, resolveram batizar a cidade com o nome de Al-Qahira, que significa A Vitoriosa. Com o passar dos séculos, o nome Al-Qahira acabou virado Cairo. Nos contos das Mil e Uma Noites, há uma referência a ela como A Mãe do Mundo. O seu nome habita o imaginário das pessoas. O inconsciente coletivo deseja viajar pela história do Cairo.
… que viu nascer religiões e impérios
O Cairo viu nascer religiões e impérios. Berço do cristianismo e do islamismo recebeu profetas, abrigou líderes, deixou passar guerreiros e homens santos que atravessaram seus desertos, oásis, o rio Nilo e até o Mar Vermelho. Vencendo o tempo, o Cairo vive, respira e continua fazendo história. Ainda hoje, de dentro dos muros da grande mesquita de Al-Azhar, a mais antiga universidade do planeta, ecoam declarações ouvidas e respeitadas pelo mundo inteiro.
No Cairo, comece seu passeio pelo Mercado de Khan al-Khalili
Atravessar a cidade do Cairo em direção ao Centro Antigo é uma aventura que você precisa experimentar. Ali, no coração islâmico está o Mercado de Khan al-Khalili. Você não vai precisar de GPS para circular pelo lugar, muito pelo contrário. Deixe-se levar pelo perfume dos incensos e das especiarias que flutuam no ar. Erguido há cerca de 600 anos, esse mercado antigo é um complexo de lojas – mais de 1000 – onde se vende de tudo = roupas + artesanato + porcelanas + luminárias + alimentos e temperos + ferramentas + objetos de decoração e até artigos industrializados.
No período da Rota da Seda, Khan era um tipo de hospedaria, ou Caravanserái, que abrigava os viajantes da milenar rota. Em 1382, Amir Jaharqas al-Khalili construiu um Khan no local onde funciona hoje o mercado, para receber os comerciantes que vinham de longe. Além de descansar, os viajantes podiam guardar ali os seus produtos e os animais que transportavam as mercadorias. No século 16 um sultão pôs ao chão as antigas hospedarias e ergueu um complexo de pequenos hotéis, assim como armazéns e, por fim, lojas. Desde então a configuração do mercado manteve-se praticamente idêntica até os dias atuais.
Aos olhos dos turistas, Khan el-Khalili é um labirinto misterioso, que vende das lembrancinhas mais pops, à peças que são verdadeiros achados. Artigos em cashmere, lenços de seda, estatuetas, joias, objetos em terracota, tapetes, cristais, peças em marchetaria, temperos e condimentos exóticos, tudo é encontrado no mercado.
E nenhuma visita ao Khan el-Khalili fica completa sem o exercício de negociar para conseguir um preço melhor antes de fechar uma compra. Vale lembrar que alguns povos da cultura árabe seguem um ritual de negociação, do momento em que o cliente põe os olhos sobre uma mercadoria até o momento em que ele, finalmente, decide abrir a carteira. Na prática, tudo o que você precisa fazer é pechinchar, pechinchar, pechinchar.
Perca o fôlego no Museu do Cairo
Entrar no Museu do Cairo é outra experiência inesquecível. O prédio de cor avermelhada, em estilo neoclássico, conserva em suas salas de pé direito triplo mais de 120 mil relíquias de praticamente todos os períodos históricos incluindo do Antigo Império (cerca de 2500 a.C.) ao Novo Império (cerca de 1550 a.C.), e ainda objetos greco-romanos e do Império de Alexandre o Grande.
Uma boa sugestão é chegar cedo e passar toda a manhã circulando atentamente por suas instalações. Faça uma pausa para o almoço e retorne. Longe de ser cansativa, a visita oferece visões surpreendentes. Como um grande armazém arqueológico, pesados armários de madeira e vidro guardam dinastias completas de múmias, dentro e fora de seus sarcófagos. Nas vitrines menores, exposição de calçados, bijuterias, instrumentos musicais e brinquedos fazem contraponto com as gigantescas estátuas em granito e tumbas trazidas intactas para os amplos recintos.
O Salão das Múmias Reais e o Salão de Joalheria Egípcia Antiga são imprescindíveis. O mesmo vale para o espaço dedicado exclusivamente ao Faraó Ramsés 2º. Entre as tantas maravilhas que podem passar quase despercebidas está uma cópia da Pedra de Roseta (a original está no Museu Britânico, em Londres), descoberta pelo exército de Napoleão e decodificada pelo chefe da expedição, Jean-François Champollion, que decifrou o significado dos hieróglifos. O Museu Egípcio do Cairo foi tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.
O tesouro de Tutancâmon
Entre tantas riquezas, únicas do gênero no mundo, o Museu Egípcio do Cairo tem um tesouro que supera todos os outros. É a tumba do faraó Tutancâmon, descoberta, intacta em 1922. Todos os pertences do mais badalado faraó foram transportados para o museu. Lá estão imagens de deuses, móveis, objetos de uso pessoal de Tutancâmon, papiros com inscrições, histórias e desenhos, jóias, artigos em ouro, prata e pedras preciosas. Muito bem preservadas, a sua múmia, a máscara mortuária e os diversos sarcófagos são o ápice da mostra.
Seja um dos primeiros viajantes a ir ao Novo Museu Egípcio
Nesse exato momento, a Cidade do Cairo se prepara para presentear o mundo com um dos mais fantásticos museus de todos os tempos. Com a inauguração marcada para até o final de 2023, o Grande Museu Egípcio já é uma realidade. Cerca de US$ 1 bilhão foram investidos na sua concepção, projeto e construção e também nesse exato momento, boa parte do acervo do antigo Museu Egípcio do Cairo está de mudança para essa nova casa que está a apenas 2 km de distância das Pirâmides de Gizé. O momento é perfeito para começar a criar o seu roteiro de viagem para o Egito.
No Cairo, conheça pelo menos uma Mesquita
O Cairo tem mesquitas impressionantemente belas que merecem ser visitadas. Construída em 1176 durante a Guerra das Cruzadas, a Mesquita da Cidadela de Saladino é uma delas. Na Cidadela de Saladino você tem a opção de visitar ainda alguns aposentos dos palácios ali construídos.
A Mesquita Mohammed Ali, em estilo turco-clássico é outra que pode fazer parte do seu roteiro. Seu interior é silencioso e austero. A decoração é contida, mas lindíssima. Está aí um belo momento para descansar e repor as energias contemplando o cenário e observando as tradições, locais.
Já na entrada do mercado de Khan al-Khalili está a Mesquita El Hussein, de significado especial para os Xiitas. E logo em frente à Mesquita de El Hussein está Al-Azhar, a mais antiga universidade do mundo construída no ano 970. Ela é um centro de estudos islâmicos por excelência, que atrai estudiosos do mundo inteiro, em busca de conhecimento. Por fim, a Mesquita do sultão Hassan, construída no século 14 é um dos maiores edifícios islâmicos do mundo.
E um lembrete: antes de deixar o hotel para visitar uma mesquita, lembre-se de usar calças e blusas sem decotes e cubra a maior parte dos braços. Leve um lenço ou uma pashimina para cobrir a cabeça e tire os sapatos para entrar no local, que é sagrado.
Vá para Memphis e depois siga para ver a Pirâmide de Sakkara
Capital do Antigo Egito, Memphis está a aproximadamente 30 km da Cidade do Cairo e pode ser descrita como um museu a céu aberto. Lápides em granito, restos ou fragmentos de esculturas em pedra calcária e alabastro, com mais de 4.000 anos de idade se espalham pelo Centro.
Continue seu passeio até a pirâmide de Sakkara, a mais antiga do mundo, construída em degraus. Em Sakkara é possível visitar as mastabas = tumbas subterrâneas dos nobres da época, mantidas em perfeito estado de conservação.
Faça uma saudação a Quéops, Quéfren, Miquerinos e Esfinge, o quarteto fantástico do Egito
Deixe a visita às pirâmides de Gizé por último. Depois de ficar cara a cara com Quéops, Quéfren, Miquerinos e com a simpática Esfinge, é impossível pensar em algo que não seja a grandiosidade da obra. Comece fazendo um passeio de camelo, para apreciar a paisagem em perspectiva, avistando de longe esta maravilha do mundo, rodeada de turistas.
Quéops impressiona com seus 137 metros de altura. Quéfren ainda mantém intacta a ponta final de sua cobertura. Bem menor e mesmo inacabada, a cena não ficaria completa sem Miquerinos. Mais abaixo está a Esfinge. Misteriosa – ninguém conseguiu descobrir sua idade exata – se posta, colossal, à entrada do imponente conjunto. Enigmática, às vezes parece sorrir.
Recentemente restaurada, não aparenta ter seus tantos milhares de anos. Contemplativa, quem observa o cenário é ela. Tudo indica que continuará fazendo o mesmo por mais uma eternidade. A senhora Esfinge sabe das coisas. Enquanto isso, turistas vem e vão e uma turma de japonesas começa a recolher a areia do deserto para levar para casa, como souvenir…