História + lendas + geografia desafiadora criam um dos mais emocionantes hikings do planeta

Tiger’s Nest, ou o Ninho do Tigre, em português, é o nome do mais conhecido monastério butanês. Uma viagem ao Reino do Butão jamais estará completa sem a experiência de alcançá-lo. A Reportagem Travel3 detalha o passo-a-passo para visitá-lo, numa caminhada que será guardada para sempre na memória do viajante.

O Butão
O país está literalmente escondido entre as montanhas do Himalaia, a Índia e a China, 2 países de grandes extensões territoriais. Sua posição geográfica, aliada ao alto custo para visitá-lo, deixou-o ainda mais isolado e, consequentemente, muito mais atraente para aquele viajante que busca o frescor de um novo destino, combinado à visão romântica de explorar um dos poucos estados budistas do planeta.
No Butão, perdura uma tradição secular relacionada à concepção medieval do poder do rei. Embora a democracia seja oficialmente o sistema político do país, o país é chamado de reino, onde o século 21 convive com estórias e lendas.

A Terra do Dragão do Trovão
Assim é chamado o país – em inglês, The Land of the Thunder Dragon. O Butão foi o lar do Guru Rinpoche, ou Padmasambhava, fundador da escola tibetana, a linha tântrica do budismo. Diz a lenda que, há cerca de 1.300 anos, o Guru Rinpoche subiu nas costas de uma tigresa voadora que o levou para as cavernas instaladas no topo de uma das mais altas montanhas da região. Num trecho que lembra a vida de Buda, Padmasambhava meditou nessas cavernas por 3 anos, 3 meses e 3 dias, convertendo-se ao budismo. Nove séculos mais tarde, no mesmo local, um monastério foi construído. Seu nome é Taktsang, mas ele é conhecido pelos ocidentais como o Ninho do Tigre, do inglês Tiger’s Nest, fazendo alusão à tigresa voadora.

Desde que foi erguido, nos anos 1600, o Tiger’s Nest se tornou um sítio sagrado para os budistas. Alcançá-lo é o sonho não apenas de peregrinos, mas dos aficionados por fazer viagens com conteúdo. Natureza, cultura, história e religião se unem, proporcionando ao viajante uma experiência autêntica.

O Taktsang, ou Tiger’s Nest, está a uma altitude de 3.120 m
O monastério fica próximo à cidade de Paro. Pequenina, ela mais parece uma vila instalada em um vale cheio de casinhas simples, cercadas por plantações de chá e arrozais a perder de vista. A região é o habitat natural de tigres e elefantes. Embora o vale disponibilize diferentes tipos de trilhas, a do Tiger’s Nest é a mais procurada. Para alcançá-la é preciso ir de carro em direção às montanhas, para chegar a um dos Parques Nacionais do Butão. Na entrada do parque há um estacionamento e, daquele ponto até o topo, serão aproximadamente 1.000 metros de subida íngreme. A recompensa para o visitante que chegar ao ponto alto do hiking durará a vida inteira.


A chegada ao Parque Nacional e o começo da caminhada em direção do topo (Foto: Claudia Tonaco)
Um hiking até o Tiger’s Nest
Para quem está em boa forma física, o percurso tem um grau relativamente baixo de dificuldade. O caminho é rusticamente pavimentado, mas bem preservado. Junte isso à boa infraestrutura, ao ar puro de montanha, às temperaturas mais amenas da altitude e à paisagem esplendorosa ao redor. O resultado deixa o desafio físico bem mais agradável. Os guias locais dizem que para chegar até o topo basta ir contando os passos. Serão pouco mais de 1.000. Por isso, o objetivo ali é quase meditativo. Seguir caminhando, num ritmo confortável, parando aqui e ali para apreciar a paisagem belíssima que evidencia, a cada passo, a aproximação com o monastério encravado no topo da montanha. Taktsang é um autêntico dzong butanês, uma mistura de mosteiro e fortaleza. E de qualquer ângulo, ele se mostra tal qual realmente é: sagrado e (quase) inatingível.

O dia em que fiz o percurso
Eu encontrei poucos turistas pelo caminho, o que fez crescer a sensação de estar em um local misterioso e inexplorado. Ainda assim, cruzar com peregrinos e esportistas foi outra experiência inesquecível. Cada um deles deixava transparecer suas emoções por estarem ali, conhecendo um dos ícones do budismo em todo o mundo, ou por terem conseguido chegar a um lugar tão belo e desafiador.

À medida que o dzong ia se aproximando, a emoção aumentava a ponto de se tornar quase uma entidade caminhando, uma sombra dos meus passos. Cerca de 2 horas e meia desde que a forte subida teve início, um gigantesco precipício surgiu logo depois de uma curva. Do outro lado estava o Tiger’s Nest, encarando serenamente todos os que surgiam do lado de cá. O turista é pego de surpresa e entende que está sendo observado pelo monastério, o que só aumenta o desejo de vencer as últimas centenas de metros para saudá-lo bem de perto.

Toda essa área está envolta por coloridas bandeirolas de oração budista e por centenas de milhares de tsa-tsas – um artefato de forma cônica, feito de argila, gesso ou cerâmica. Criado pelos monges, seguindo as tradições do budismo tibetano, essas pequenas peças são consideradas relíquias sagradas, pois são abençoadas uma a uma, por um Lama budista.

Quando a cena se conecta ao coração do viajante
A partir daí, cada passo se torna marcante e inesquecível. Os viajantes diminuem o passo para apreciar a chegada. Assim é possível observar e compartilhar as emoções do momento. Alguns choram lágrimas de cansaço e alegria. Outros recuperam o fôlego, olhando minuciosamente o cenário. Há até os que gritam de felicidade e aqueles que apenas contemplam o momento e seguem em frente, silenciosos.

Em um dia claro, como o que experimentei, é possível olhar para o fundo do abismo e compreender que estamos acima das nuvens. Elas flutuam etéreas, bem abaixo dos nossos pés. Estamos numa altitude maior até do que a rota dos aviões.

Quem entra no mosteiro deixa do lado de fora os sapatos e os equipamentos eletrônicos. Guardar na mente as imagens de salas em penumbra, das cores e dos desenhos exóticos, das lamparinas ardendo quase cobertas por tantas oferendas, das imagens de Buda, dos amuletos e dos símbolos do monastério, brilhando desorganizadamente em profusão, ficará a cargo de cada um.
Amei ler esse texto.
Me reportei a 2015, quando estive no Butão e tive a imensa felicidade de ir até o Tiger Nest.
Emoções maravilhosas tomaram conta do meu ser e da minha mente, ao adentrar as várias salas do templo : gratidão, felicidade, paz e fé !
Foram kilometros e kilometros de caminhada, entre subidas íngremes, que fazem a gente refletir e meditar, sobre o que realmente nos faz felizes !
E ao chegar lá, ao alcançar o tão almejado templo, tive a certeza de que a felicidade está nas pequenas coisas e no simples “ser” feliz !
O “ter” pesa em nossas vidas, mas o “ser” é um estado tão sublime da alma, que nos eleva a uma felicidade interior inigualável.
Minha viagem se iniciou pela Índia, passando pelo Nepal, vindo a terminar com “chave de ouro”, por esse país maravilhoso, conhecido como a Shangrilá do Himalaia.
Relembrar esses momentos, através deste texto, foi um retorno ao tempo espetacular que passei !