País faz parte da Transcaucásia, região onde a Europa se encontra com a Ásia
O Azerbaijão conquista o visitante com seus belos cenários e atrações. Sua história, riquíssima é tão extensa quanto a história da humanidade, afinal, o país está numa das mais antigas regiões habitadas do planeta.
COVID-19 no Azerbaijão = Confira os dados da Organização Mundial da Saúde

Durante minha visita, coletei uma seleção de informações + atrações fundamentais, para você que está de viagem marcada ou sonha em conhecer não apenas o Azerbaijão, mas toda a região Transcaucasiana.
Geografia = entre as montanhas onde Europa e Ásia se encontram
Classificado como um país transcontinental, sua localização geográfica é justamente onde a Europa e a Ásia se encontram. Seu território faz fronteira ao Norte com a Geórgia e a Rússia. Ao Leste está o Mar Cáspio e, ao Sul, o Irã. A Armênia e, novamente a Geórgia delimitam a fronteira Oeste.
Para o turista, vale saber ainda que as montanhas do Cáucaso estão ao Norte e a cadeia de montanhas Talysh, ao Sul. Há regiões montanhosas que se assemelham aos Alpes e oferecem o clima mais frio do que no resto do país, que apresenta temperaturas quentes e subtropicais.
História = tão antiga quanto a humanidade
Na história da humanidade, a Transcaucásia é uma das mais antigas regiões do mundo. Desde a Idade da Pedra ela é habitada e integra a milenar Rota da Seda. Por ser militarmente estratégica esta área foi – e ainda é – alvo de guerras e invasões.

Numa rápida cronologia, o Azerbaijão já pertenceu aos impérios romanos, persas, turcos, mongóis, russos e à União Soviética. Foi justamente essa mistura de culturas que deu ao país um colorido instigante.

Religião e política = muçulmano + laico
O país é muçulmano, mas com um governo laico, ou seja, completamente separado da religião. E todas as religiões são permitidas, como por exemplo o Zoroastrismo. Chamada de religião dos adoradores do fogo, ela foi fundada por Zoroastro (ou Zaratustra) e vem do zoroastrismo o significado do nome do país.

Azerbaijão significa Terra do Fogo. Ele foi o 1º país de maioria muçulmana a ter teatros, óperas e universidades modernas. Já a tradição de se beber (muito) chá faz parte da cultura islâmica preservada.
Economia e desenvolvimento = petróleo + similar ao Brasil
O Azerbaijão é riquíssimo em petróleo e gás natural. Seu PIB cresceu 1,3% em 2017 e no ranking do IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, ele está na posição de número 80, logo abaixo do Brasil.

A capital, Baku é a Cidade Cortada pelos Ventos
Desde o momento em que o turista deixa o moderno Aeroporto Internacional Heydar Aliyev, localizado em Baku, a capital do Azerbaijão, ele será recebido com imagens surpreendentes. Ao lado de majestosos edifícios dos séculos 18 e 19, que poderiam ser ícones arquitetônicos em Paris ou Londres, há prédios vanguardistas o suficiente para se destacarem no skyline de cidades como Chicago ou Dubai. Na paisagem urbana da capital do país, essas construções se misturam com templos, mesquitas, ruínas da idade média e lojas da Porsche, Rolls Royce, Bvlgary e Chanel.
Baku significa Cidade Cortada pelos Ventos e o viajante sente isso na prática. Ela é considerada uma das 10 cidades onde mais se venta no mundo. Sempre sob um vento forte, que vem do Mar Cáspio, o visitante irá admirar suas atrações.
O Templo do Fogo é um ícone de Baku
Considerado pela Unesco Patrimônio Mundial da Humanidade, o Templo do Fogo foi construído ao redor de uma chama que desde sempre brotava naturalmente do solo. Hoje sabemos que o subsolo do Azerbaijão é rico em gás natural, mas para as pessoas dos séculos 15, 16 e 17, este era um fogo mítico, sagrado, que tinha tudo a ver com a religião de Zoroastro.
O templo tem um formato pentagonal e é aberto. Ele começou a ser construído no século 15, pelos devotos do Zoroastrismo. Em seu centro está um altar onde, de uma pira protegida por um domo estreito, com 4 colunas e uma cobertura no topo, arde o fogo sagrado.

Ao redor existem construções que circundam o perímetro do templo. São salas que abrigam um pequeno museu e que antigamente eram usadas como locais de oração ou para abrigar os peregrinos que vinham de longe.

No final do século 19, uma movimentação do subsolo fechou a saída do gás natural e consequentemente o fogo cessou. Os fiéis consideraram o fato como uma punição do seu deus, mas ainda assim, o Templo do Fogo continua sendo um ponto internacional de peregrinação.
Um passeio em Baku Boulevard
Na minha 1ª noite no Azerbaijão, saí para apreciar as luzes da cidade. É uma experiência deliciosa poder caminhar pelo centro de uma grande metrópole, e ver que as outras pessoas fazem o mesmo, por puro prazer. A malha urbana de Baku convida o visitante a seguir despreocupadamente pelas ruas e observar. Pessoas recém-saídas do trabalho descansam e colocam a conversa em dia nos bancos das praças. Amigos seguem conversando em direção a um restaurante. O clima é de confraternizações.

Um dos melhores locais para este reencontro com a vida pós-expediente se dá no Baku Boulevard, um dos mais bonitos cenários da cidade. Margeando a baía do Mar Cáspio, a elegante vizinhança foi construída no começo do século 20 pelos barões do petróleo que ergueram ali as suas mansões.
Ao fundo, mais além das frondosas árvores deste parque à beira mar, parei para admirar as modernas Flame Towers, as Torres Flamejantes projetando luzes sobre suas extravagantes fachadas de vidro. E ao ver que a lua cheia nascia no horizonte, me deparei com uma cena atemporal. Sentadas na arquibancada de pedra, entre o calçadão e o Mar Cáspio, duas mulheres muçulmanas compartilhavam a tranquilidade do lugar.
Talvez fosse o lenço sobre as suas cabeças, talvez a lua cheia ao fundo, certamente os olhares das duas, observando, como eu, a lua subir no horizonte. A cena me causou uma certa nostalgia, mas sabia que era um pouco mais. Comecei a fotografar o que via, só como pretexto para ficar ali, só para finalmente entender que o mundo pode ser imenso, distante e complexo, e de repente, uma cena simples como aquela, conseguia unir civilizações passadas e futuras, porque, no final, todos compartilhamos as mesmas e humanas emoções.
E o mundo se tornou pequeno em um Boulevard, numa noite de lua cheia, em Baku.
O Centro Cultural Heydar Aliyev deixou o Azerbaijão ainda mais bonito
Baku é uma daquelas cidades da qual você se despede à força, sem querer partir. Antes de pegar a estrada, porém, realizei um desejo de viajante: vi de perto o Centro Cultural Heydar Aliyev. O projeto, da premiadíssima arquiteta britânica iraniana Zaha Hadid é uma obra de arte em escala monumental. Orgânico, vanguardista, majestoso, impressionante, é o resultado de uma mente genial e criativa.
Como um palácio luxuoso, comunica que o Azerbaijão definitivamente é um país que caminha em uma outra direção, oposta à rígida e monocromática arquitetura soviética e que quer ir além do tradicional estilo neoclássico das cidades europeias. Com milhões de curvas, ângulos e pontos de vista, olhar para o Centro Cultural de Zaha Hadid é como participar do ritual do Sabrage, quando uma garrafa de vinho é aberta com um golpe de espada. O sabre, aqui, é a beleza incondicional do projeto que, num único golpe, abre a cabeça do viajante para um mundo onde não existem limites estéticos ou estruturais.

O prédio é feminino, sensual, muito forte, e muito árabe. Aliás, em muitos momentos, me remetia a fluida caligrafia árabe, cheia de curvas e, para nós, ocidentais, cheia de mistérios. Me remeteu também às velas dos navios, enfunadas pelos fortes ventos de Baku, e, por que não? Ao movimento de chamas da Terra do Fogo, significado do nome Azerbaijão.
Feliz da vida e agradecida por ter visto o Centro Cultural de Baku bem de perto, me despedi da capital do Azerbaijão e segui para Shaki.
O percurso de Baku a Shaki é pura história da humanidade
Distante cerca de 370 km de Baku, Shaki (também se escreve Sheki) é uma cidade que está ao Norte do Azerbaijão, bem próxima à fronteira com a Georgia, país que será o meu próximo destino neste roteiro riquíssimo que faço pela Transcaucásia. Existem tantas atrações pelo caminho que é imprescindível fazer paradas para visitar as principais. Entre as maravilhas culturais e históricas que conheci destaco 4.
A 1ª é o Mausoléu de Diri Baba, um homem santo da religião sufi, uma corrente do islamismo. O Mausoléu está no topo de um penhasco e foi construído nos anos 1.400. Do alto, e sob um vento forte, contemplei o exótico cenário ao redor, com campos abertos e um cemitério antigo sobre um platô, logo em frente.
A 2ª parada foi em Shamakhi, para conhecer a Mesquita de Juma, construída nos anos 700. Ela é considerada a 1ª mesquita da região do Cáucaso e é um local sagrado para os muçulmanos. Minha visita ao local foi numa sexta-feira, que equivale para os muçulmanos ao domingo dos católicos e ao sábado para os judeus. Então, mesmo usando um lenço para cobrir a cabeça, por ser mulher, não pude visitar os salões principais e fiquei com outras viajantes numa antessala, ouvindo os homens rezarem.
A 3ª parada foi logo adiante, no cemitério de Yeddi Gumbaz, com um cenário incrível. No meio de uma paisagem desolada, estelas – blocos de pedra esculpidos em baixo relevo – algumas em pé, outras caídas, eram o próprio símbolo do abandono. Caminhando sozinha pelo cemitério, fotografando as lápides e tumbas, me senti acompanhada pelo forte vento, que não parava de uivar, numa cena que se tornou inesquecível, dentro de uma viagem já tão bela.
O indecifrável mistério do Palácio de Khan
Já em Shaki, minha última visita do percurso foi o palácio de Muhammed Hasan Khan. Construído no século 18, seu estilo remete à arquitetura persa, também relacionada aos melhores exemplares da arquitetura iraniana.
Muhammed Hasan Khan foi um líder das tribos ao Norte do Azerbaijão e, durante a visita guiada, meu grupo e eu fomos avisados que era proibido filmar e fotografar no interior do palácio. Apreciamos os belíssimos vitrais, e os desenhos nas paredes e teto, que mostravam cenas cotidianas e de guerra, com Muhammed Hasan Khan em várias delas. Em uma, especificamente, ele cavalgava e levava, na garupa uma mulher usando plumas coloridas na cabeça.
Foi quando um dos viajantes do grupo perguntou quem era aquela exótica mulher que seguia com o rei.
O guia gaguejou… e disse:
– Eu não posso contar a vocês.
– Por quê? Perguntamos todos.
– Porque este é um segredo do Azerbaijão.
Ao terminarmos a visita, saímos pela cidade perguntando o mesmo para todas as pessoas que encontrávamos. Algumas riam, nervosas, outras desconversavam e outras diziam que não podiam nos contar.
Acreditem! Até hoje continuo tentando descobrir a história por detrás da imagem do Palácio de Khan, em Shaki.
Bom dia. Excelente o seu artigo, as fotos e as explicações. Parabéns. Adorei!