Porque a música pode transformar sua jornada em um road movie
Poucas combinações são tão fantásticas quanto música e viagem. Quando entram em harmonia, têm o poder de transformar sua jornada em um autêntico road movie, com um detalhe: ali, você é o personagem principal.
Todos os anos crio uma lista das músicas que aconteceram nas minhas viagens. Algumas têm a ver com o tema do roteiro, outras surgem e são incorporadas pelo caminho.
Compartilho com você o que ouvi e me fez vibrar pelos 4 cantos do mundo.
Cáucaso = Aram Khachaturian + Haig Yazdjian
Durante a viagem que fiz pelo Cáucaso = Azerbaijão + Geórgia + Armênia, Zara, a guia da Armênia, me apresentou ao compositor Aram Khachaturian e ao Balé Gayane. A obra pode ser vista como um retrato musical, não apenas da Armênia, mas de toda a região do Cáucaso.
De família armênia, Khachaturian nasceu no começo do século 20 em Tbilisi, na Georgia, que na época fazia parte do Império Russo. Posteriormente, com a Revolução Russa (em 1917), a Georgia integrou-se à União Soviética.
A beleza do Balé Gayane está no brilho que consegue dar aos temas claramente folclóricos, que até hoje é possível ouvir na região, mas não com tamanha genialidade. O viajante que embarca numa viagem pelo Cáucaso sob o som da composição, sentirá, com mais realces, as cores do país, os tons europeus misturados com os asiáticos, os acordes da natureza e perceberá as nuances do ritmo rotineiro dos nativos, numa perfeita harmonização dos sentidos.
O balé tem 8 movimentos e o mais famoso deles, com certeza você já ouviu. É a Dança dos Sabres, que se transformou em um tema recorrente dos desenhos animados.
O Cáucaso também me presenteou com o som de Haig Yazdjian, músico sírio, de pais armênios.
Em um almoço na estrada, indo não me lembro de onde, nem para onde, a única memória que ficou registrada foi a desta canção que tocava no restaurante. O Soundhound me mostrou o nome do artista e a partir de então o trabalho de Haig Yazdjian passou a integrar a trilha sonora desta viagem, tão rica quanto as composições do artista.
Nevada = Chris Isaak + Sturgill Simpson
Este ano pude testar toda a musicalidade de temas do cancioneiro norte-americano nas planícies desoladas de Nevada. E 2 músicas em especial foram as mais tocadas pelo meu iPod durante a viagem.
A superpop Wicked Game foi uma delas. A canção, que já é um clássico, completa 30 anos em 2019 e se mantém atual e muito bem tocada. A obra prima do cantor e compositor Chris Isaak já foi trilha até de Games of Thrones, e cai muito bem em uma viagem pelo interior do estado de Nevada.
Os acordes da guitarra, os arpejos ecoando música afora saltam dos ouvidos e se expandem paisagem afora. E poucos cenários são tão bem preparados para conversar com este estilo musical como as planícies solitárias de Nevada.
A outra canção, Just Let Go, de Sturgill Simpson parecia ter sido feita sob medida para o cenário monumental. A faixa faz parte do álbum Metamodern Sounds in Country Music. Misturados com as planícies e a estrada, os vibratos da melodia produziram um efeito lisérgico, fazendo o pensamento dissolver e seguir a alma livre, no meio de tanta amplidão, até se perder na imensidão da paisagem, bater nas Montanhas Rochosas ao fundo e voltar para se incorporar novamente a esta viajante, que se sentiu, realmente, em plena viagem.
A composição de Sturgill Simpson conseguiu harmonizar-se com o lugar, abrilhantando-se com a paisagem e deixando a cena quase surreal.
A Ghost Story = para os voos de longa duração
No voo da United para Chicago, assisti A Ghost Story, cuja trilha sonora, composta por Daniel Hart, me capturou na hora. Ao chegar ao hotel, comprei o álbum, no iTunes (sim, eu ainda faço parte da velha escola e gosto de comprar música).
Minha agenda em Chicago foi intensa e só consegui ouvir o álbum no meu voo de volta, o que fez todo o sentido. As melodias são oníricas, com tons misteriosos e relaxantes, sempre meditativos. É um convite perfeito para embarcar e refletir sobre a vida durante uma viagem de 10 horas. Liguei o repeat e assim o fiz e continuo fazendo em voos de longa duração.
Chicago = Marshmello & Anne-Marie
Lá estava eu descobrindo Chicago. Acabara de entrar na cafeteria que se transformou na minha preferida, em Windy City. Goddess and the Baker servia, além de um delicioso café e um perfeito croissant de amêndoas, o ambiente ideal para um viajante sentar, relaxar e observar o cotidiano da cidade feérica, sob o ponto de vista dos próprios nativos. E foi lá que ouvi pela 1ª vez o refrão:
Haven’t I made it obvious?
Haven’t I made it clear?
Want me to spell it out for you?
F-R-I-E-N-D-S
Ali mesmo a música grudou como chiclete, entrei no iTunes e comprei na hora.
Trilha dos Direitos Civis = Uma viagem dentro da viagem
A viagem mais surpreendente que fiz na vida aconteceu em 2018. Ao percorrer a Civil Rights Trail, no Sul dos Estados Unidos, descobri um outro lado da história norte-americana que se mostrou universal, assim com a música que fui ouvindo pelo caminho.
Sobre a trilha da Trilha dos Direitos Civis falarei em um próximo post. Até lá, espero que você tenha tempo e qualidade de vida o suficiente para descobrir algumas das músicas aqui sugeridas.