Viagens que modificam nossa visão do mundo e do papel das mulheres
Quando visitei o Nepal, tive uma experiência única que compartilho com você, viajante da Travel3. Fiquei cerca de 20 dias no país e quase uma semana na capital, Kathmandu. A precária iluminação urbana e a falta de nomes nas ruas tinham feito eu me perder justo na minha 1ª noite em Kathmandu. Para não repetir a dose, decidi aproveitar ao máximo a luz do dia para conhecer a cidade. Por isso, todos os dias descia bem cedo para tomar o café da manhã, por volta das 6h para depois bater perna e voltar antes de escurecer. Por isso todos os dias eu encontrava o restaurante do hotel completamente vazio e dava para ouvir, na cozinha, os primeiros garçons chegando e se preparando para trabalhar. Havia apenas uma jovem garçonete esperando por viajantes madrugadores, como eu. Com ninguém mais para atender, passávamos boa parte da refeição conversando. Era o momento perfeito para saber mais sobre o Nepal, a vida das pessoas e a cultura local.
Alguns dias depois, estava terminando o café quando garçonete se aproximou dizendo que queria se despedir de mim. Respondi que ainda ficaria mais alguns dias em Kathmandu e que meu desejo era conhecer mais sobre o Nepal. Foi aí que a jovem me explicou que era ela que iria se ausentar por algum tempo e por isso não estaria no hotel para dizer adeus no dia da minha partida. Ela teria de dormir no campo, sem contato com qualquer ser humano. Sua feição – ora triste, ora tentando conter uma certa raiva – mostrava que algo errado estava acontecendo, mas eu jamais imaginaria o que estava por vir.
Perguntei se era algum tipo de meditação ou prática budista que ela iria fazer, mas não… e demorou um tempo até eu somar todas as palavras cifradas com que ela ia me respondendo, para finalmente entender o motivo.
O Nepal e o feminino
Uma grande parte dos nepaleses acredita que a mulher, quando fica menstruada pela 1ª vez, se torna um ser impuro. Elas não podem ficar perto da família. Têm de dormir em estábulos, na rua, ou no campo. Elas passam este período praticamente em jejum e não podem ver a luz do sol. Algumas vão para cavernas próximas ou ficam trancadas nos quartos até que a menstruação acabe. Também não podem olhar para qualquer outra pessoa ou tocar em qualquer tipo de comida ou utensílio. Como elas estão contaminadas, podem contaminar toda e qualquer coisa que tocarem.
A verdade é que irmã de 12 anos da garçonete acabara de ficar menstruada e tinha sido expulsa de casa. Como ela não acreditava nessas superstições, iria para o campo, com a irmã.
O que senti ao ouvir aquela história, se equivale ao que sinto hoje, ao ver as pessoas com uma crença convicta em fake news, narrativas e outras retóricas.