Vinicius Lummertz, presidente da Embratur (Fotos: Embratur/Divulgação)
Presidente da Embratur fala sobre os 50 anos do Instituto Brasileiro do Turismo + o atraso e a redenção econômica do Brasil, que precisa se apoiar nas atividades turísticas
Formado em Ciências Políticas pela Universidade Americana de Paris, com pós-graduação em Harvard, Vinícius Lummertz, ao contrário da maioria dos políticos brasileiros, reconhece que o turismo tem potencial de sobra para salvar a economia brasileira. Durante o Festival de Turismo de Gramado (Festuris), a reportagem da TRAVEL3 conversou com o presidente da Embratur e compartilha aqui os principais trechos desta entrevista.
O começo
Entrei no Ministério do Turismo há cinco anos e fiquei aproximadamente três anos e meio na Secretaria de Políticas, na qual fizemos o Plano Nacional de Turismo e o Plano Nacional de Turismo em Ação (PNTI em Ação). Durante esse período, coordenei o Conselho Nacional de Turismo e, dali, fui para a Embratur, onde estou há um ano e meio, com uma interrupção de quatro meses. O PMDB foi o primeiro diretório a sair do governo anterior, e eu fui a primeira pessoa a deixar o governo. Deixei a presidência da Embratur em 14 de março e, quatro meses depois, voltei, a convite do presidente Michel Temer.
O trabalho na Embratur
Para mim, o trabalho na Embratur é uma continuidade da Secretaria de Políticas, porque ela planejava e definia as estratégias dentro do Ministério do Turismo. A Embratur é a execução, e agora estamos na transformação dessa execução, aos 50 anos de vida da instituição, transformando a Embratur em agência, ampliando o escopo da autarquia especial, buscando novas formas de obtenção de recursos para investimentos, para que nós possamos enfrentar a concorrência internacional, entendendo o que está acontecendo no mundo.
O turismo, atualmente, no mundo
Há hoje uma corrida pelo turismo. Recentemente o Japão mostrou a sua estratégia de dobrar o número de turistas – de 20 milhões para 40 milhões. Os Estados Unidos já fizeram isso em 2012, quando, de 65 milhões, decidiram aumentar a meta para 100 milhões de visitantes.
A França lançou 59 medidas para reforçar o turismo em Paris. A Argentina retirou os impostos dos hotéis, assim como a necessidade dos vistos para os norte-americanos e outras nações visitarem o país.
Os últimos 50 anos
O Brasil ainda é um país muito fechado e, não obstante ter feito a Copa do Mundo, as Olimpíadas e uma série de grandes eventos para alçar sua imagem perante o mundo; ter feito PPPs (Parcerias Público-Privadas) e concessões de aeroportos; ter modernizado os seus estádios de futebol e ter aberto suas fronteiras para o investimento internacional, ainda restam no Brasil muitas instâncias burocráticas, antiquadas e preconceituosas em relação ao turismo.
O ambiente ainda é um dos piores do mundo para se montar um negócio no setor. Entre 140 países, somos o primeiro em belezas naturais, o oitavo em potencial cultural e o 137o pior lugar para montar um negócio de turismo.
Em compensação, um dos itens em que somos mais bem avaliados, turisticamente falando, é a hospitalidade do próprio povo brasileiro. Então o Brasil tem o maior potencial do mundo e é um dos menos desenvolvidos, o que significa uma oportunidade tremenda para o país e para as próximas gerações.
A retomada das economias no mundo inteiro vai se dar com baixa geração de emprego na indústria e, mesmo no agronegócio, será limitado. O emprego surgirá nas áreas de serviço, como os 53 setores do turismo. Essa corrida já está em curso, os países estão se mexendo, e nós, por sermos historicamente um país atrasado, estamos tentando ocupar uma melhor posição nessa corrida. Para isso, precisamos acelerar, o que significa mudar o ambiente de negócios.
Parques nacionais
Nossos parques naturais estão fechando e precisam ser abertos novamente. Os ministérios do Meio Ambiente e do Turismo querem a reabertura, e nós vamos conseguir. Os Estados Unidos recebem 300 milhões de visitantes nos seus parques nacionais. Nós estamos jogando fora, sabotando uma oportunidade, se mantivermos essa linha antiquada, conservadora e sectária nos nossos parques naturais.
Ano passado fechamos São Joaquim (Santa Catarina) e Anavilhanas (Amazonas). Este ano, foram fechados o Serra da Capivara (Piauí) e os parques de Minas. Isso é uma boçalidade! O Brasil não sobrevive a tanta boçalidade.
Marinas, portos e resorts
Acontece o mesmo na área de marinas e portos. Não se consegue implantar marinas no Brasil, pelo emaranhado e embate jurídico e judicial de um Ministério Público Federal que, em geral, é totalmente contrário ideologicamente e olha isso como destruição do meio ambiente, uma questão que já está superada no resto do mundo. Isso é um debate de 50 anos atrás.
Existem não só essas questões jurídicas ambientais como também trabalhistas. Um exemplo é o segmento de cruzeiros marítimos. Chegamos a ter 20 cruzeiros internacionais navegando pelo litoral brasileiro. Hoje são apenas sete que enfrentam exigências de folgas de fim de semana no meio de um cruzeiro que está cobrindo a costa brasileira; exigências de CLT para uma parcela de funcionários, quando na verdade essa é uma economia internacionalizada que já tem cultura própria, a qual nós aderimos ou não. Meio-termo é algo que não existe.
Os resorts no Brasil têm dificuldades para se instalar. Leva 14, 15 anos para colocar um resort em pé no país. Isso quando se consegue.
Cidades históricas
Outro setor de potencialidades são as cidades históricas. A Itália é um exemplo de superação, que criou hotéis dentro de prédios com mais de mil anos. Aqui no Brasil, o sectarismo, também na área de conservação, entende que o patrimônio histórico tem de ser intocado. Isso é uma preconceituosa tolice, porque não é possível ao Brasil reformar patrimônios históricos para que eles fiquem apodrecendo e, 20 anos depois, termos de fazer tudo de novo, segundo o bel prazer de pessoas que se sentem donas do espaço público. É muito atraso de uma vez só.
Nós temos que afastar esse atraso com uma decisão política, de estado, pensando no seguinte: quais são as melhores práticas de turismo do mundo? São essas que devemos seguir, adaptadas evidentemente à nossa realidade e ao nosso contexto.
Parques temáticos
Como um parque temático, pagando 120% de imposto sobre seus equipamentos consegue sobreviver? Aí você vê parques da Disney construídos em várias partes do mundo e nenhum projeto visando ao Brasil. Enquanto isso, assistimos a nossos parques temáticos tendo de pagar 120% sobre um equipamento que não é bem de consumo, é bem de capital.
Estratégias
Conseguimos liberar a entrada, sem necessidade de visto, dos norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses. Já havíamos vencido essa batalha durante os Jogos Olímpicos e, agora, pedimos uma extensão de mais um ano. O ministro Padilha entendeu a necessidade e foi além, estendendo a permissão pelos próximos dois anos.
Entendemos que devemos dar um tratamento especial à China. O país fez uma parceria com a Argentina, que receberá 1 milhão de turistas chineses com expectativa de faturar US$ 1 bilhão. Nossos vizinhos aboliram o visto para os turistas dos Estados Unidos, o que fez aumentar em 25% o fluxo de norte-americanos. O presidente Macri retirou os impostos dos hotéis, uma evolução importante dentro da corrida do turismo, porque, volto a dizer, os empregos surgirão dessas áreas de serviço.
No caso da Embratur, é prioritário a transformação institucional que já estamos fazendo e recursos para promover o país no exterior, que significa trazer dólares para o Brasil. Internamente, desburocratizar – em todos os níveis – é a prioridade.
Precisamos dessacralizar as cidades históricas, as marinas e os cruzeiros; construir experiências sólidas e entender que a saída para o desenvolvimento econômico do Brasil passa pelo setor de turismo e viagens. Será esse o segmento que vai conferir competitividade para toda a economia, melhorando a qualidade de vida nos centros urbanos, mediante melhores hotéis e centros de convenções, porque o preparo para o turismo automaticamente melhora as condições de uma cidade, assim como o conjunto dos receptivos, dos aeroportos, mudanças que já estão acontecendo, com as privatizações e concessões. Tudo isso confere competitividade à economia como um todo.
O turismo é muito mais sério do que a imagem lúdica que se tem dele. No Brasil, o setor já responde por 9% da economia e por 9 milhões de empregos, se somados os diretos, indiretos e induzidos – e o setor pode fazer muito mais. O turismo será o grande companheiro do agronegócio no Brasil do futuro.
O turismo sob a visão dos políticos
Eu acho que a ficha está caindo. Cada vez mais, vemos manifestações da classe política sobre a pujança e a força do turismo, de um lado; e do sentimento de frustração, dos próprios políticos, que recebem de suas bases registros sobre a impossibilidade de instalar um resort à beira de um rio ou dentro de um parque natural. Precisamos derrubar as “igrejas do atraso”, que são contra o desenvolvimento econômico e se alimentam de ideias antigas. É uma cultura atrasada, hipócrita e da negação. Porque o mundo tem bons exemplos a serem seguidos. Aliás, o mundo nos fez muitos favores, e o maior deles, recentemente, veio da Venezuela, ao mostrar como não fazer as coisas.
Na política, o interesse público é mãe e pai de todos os outros interesses e, no Brasil, as pessoas acham que o seu interesse, sua visão pessoal, principalmente de caráter dogmático e ideológico, é, sim, aquele ao qual o mundo inteiro tem que se conformar. O Brasil, no mundo, é o país das maiores oportunidades potenciais, e negá-las é a maior hipocrisia e irresponsabilidade. As classes empresariais e políticas precisam enfrentar isso de forma muito crítica, aberta e verdadeira.
O desenvolvimento sustentável é ambiental, mas fundamentalmente social e econômico, que, ao fim, é o que pagará a conta. No Brasil, acostumou-se a pensar que o estado paga a conta. O estado não paga nada, não cria nada. Aliás, o estado está devendo e aumenta sua dívida pública, anualmente, em R$ 600 bilhões, só em juro, tamanha a irresponsabilidade que se comete em nome dessa quase, eu diria, “patifaria ideológica” que temos no Brasil.





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