Sentada em um banco de jardim, contemplo os minutos em seus detalhes
Acordei em um lugar muito especial. Abri os olhos, ainda antes do sol nascer e me lembrei de que estava em Rapa Nui. Provavelmente você deve conhecê-la por outro nome. Estou na Ilha de Páscoa. É um privilégio estar em um lugar como Rapa Nui, por isso, não pensei 2 vezes em deixar para trás, tão cedo, o colchão macio.
Sentada em um banco de jardim ao lado da piscina do hotel contemplo os minutos em seus detalhes. Fico assim, vendo-os transformarem-se em horas, até chegar aquela que me levará a desfrutar de mais surpresas. Em breve farei mais um passeio pelo Parque Nacional de Rapa Nui, o maior museu a céu aberto que já visitei.
Agora são 7 e pouco da manhã
Já vi o dia amanhecer, ensolarado e quente, e estou feliz. Parece que os poucos madrugadores à minha volta também estão. Enquanto aproveito o tempo livre para desenhar a paisagem, observo a mudança de atitude dos homens da manutenção da piscina. Ele param tudo e se entreolham ao ver um simples avião cruzar os céus. Espantados se perguntam:
¿Qué avión es éste?
Tamanha admiração serviu para comprovar minha certeza. Estamos tão longe de tudo, que até despretensiosos aviões cortando os ares são raros de se ver por aqui.
Isolada do planeta, mesmo estando nele, curto esta curiosa sensação de afastamento do mundo. Agora somos apenas nós, visitantes e moradores, nessa pequena ilha, e pronto.
É engraçado pensar que estamos, de uma certa maneira, à mercê dos comandantes da Lan Chile
Ela é a única companhia aérea a voar para Rapa Nui. Se, por um capricho qualquer os pilotos resolverem nunca mais aterrissar em solo pascoense… provavelmente passaria o resto dos meus dias aprendendo e entendendo o que é ser um habitante da Ilha de Páscoa.
Quanto exagero! O homem (quase) tudo pode, não é mesmo? Se os polinésios, há milhares de ano chegaram até essas paragens a bordo de canoas tão rudimentares, podemos incorporar esse espírito intrépido e fazer o mesmo. Uma prova foi a façanha do explorador norueguês Thor Heyerdal, que refez o percurso em meados do século 20.
Assim, se remarmos 3.700 km para a direita, em direção à América do Sul, poderemos voltar para casa rapidinho. Isso se passarmos a encarar o tempo da mesma maneira que os habitantes de Rapa Nui. Em Rapa Nui você conclui rapidinho que o tempo é mesmo relativo.
Na Ilha de Páscoa se vive em um outro ritmo
Desde a moto que acabou de passar pela estrada, desfilando a uns 20 km por hora até o pessoal aqui do meu lado, que continua limpando a piscina e placidamente olhando para as imperceptíveis mudanças da atmosfera. Como uma espécie de efeito colateral, quem aqui chega começa a ter tempo para respirar fundo e encontrar enormes brechas de tempo que nos convidam a repensar a própria vida.
Um galo ao fundo saúda, atrasado, a manhã que há muito já surgiu. Pássaros invisíveis cantam por todos os lados. Só o oceano vigoroso parece disposto a continuar o seu trabalho dinâmico e incansável de transformar as rochas em areia.
Encontrando a preciosidade de cada instante, concluo que é por isso que estou tão feliz. Desejei, profundamente, que os aviões da Lan Chile se mantivessem bem distantes daqui.