Hospitalidade, cultura, tradição, lazer, excelentes vinhos e gastronomia espetacular
Não existe uma receita para criar uma viagem perfeita ou, muito menos, transformá-la num presente inesquecível. Entretanto, alguns ingredientes são essenciais. Em geral, a maioria dos viajantes quer ver belas paisagens, sejam elas urbanas ou naturais. Em seguida, o tipo de hospedagem também é importante. Não precisa ser luxuosa, mas deve oferecer conforto e encantar o hóspede. Por fim, um roteiro inesquecível deve ser minucioso e incluir cultura, tradição, lazer e gastronomia que seja genuína e autêntica.
E como o roteiro é para nós, brasileiros, entre um passeio e outro é preciso acrescentar momentos para fazer compras e intervalos para descansar em um lugar espetacular. É isso o que vamos fazer quando embarcarmos para a França, especialmente para visitar a região da Borgonha. O destino preenche facilmente todos os requisitos para criar uma viagem preciosa. Excelentes vinhos, boa mesa, cenários deslumbrantes, muita cultura e história fazem parte do dia a dia da região.

Dijon é o portão de entrada para conhecer a Borgonha
Dijon é a capital e o portão de entrada da região da Borgonha. Com cerca de 160 mil habitantes, e 600 hectares de parques e jardins, a cidade é linda e charmosa, ou seja, é um retrato da França no que ela tem de melhor. Basta uma caminhada de reconhecimento pelo centro antigo para se encantar com o conjunto arquitetônico que, de tão bonito e bem preservado, foi declarado Patrimônio Mundial da UNESCO.
A partir de Dijon tem início uma rota de vinhos e gastronomia conhecida como Champs-Élysées of Burgundy, ou Rota dos Grand Crus. No mundo dos vinhos, Grand Cru é uma designação de qualidade, a máxima delas, que indica os melhores vinhos de regiões vinícolas da França. Em outras palavras, é um selo que autentica o que há de mais excelente na produção de vinhos na França.
A rota abrange 60 km cobertos por vinhedos famosos e graciosas vilas, algumas delas de renome internacional. Ela pode ser feita a pé, de carro ou de bicicleta. Já imaginou que lindeza e a sensação do viajante ao, por exemplo, percorrer esses 60 km numa bicicleta Lapierre ou numa Gitane, que estão entre as melhores bicicletas francesas? Pra deixar tudo mais confortável, as bicicletas são elétricas e de última geração e a gente vai parando de vila em vila para comer, beber e… brindar a vida.
Mas antes de pegar a estrada, seja de tênis, de magrela ou de quatro rodas, reserve pelo menos 3 dias e 2 noites para conhecer Dijon um pouco mais. É o que vamos fazer agora.
O que fazer em Dijon
Comparada com Paris ou Lyon, Dijon, capital da Borgonha, é uma cidade mais tranquila, mas com a mesma riqueza cultural e histórica das grandes metrópoles francesas. Acima de tudo, Dijon tem uma culinária e vinhos fantásticos. Conhecer suas principais atrações locais é fácil e divertido, quase uma brincadeira. Basta seguir, a pé, a Trilha da Coruja.
O nome da trilha homenageia a Coruja da Sorte, que é o símbolo de Dijon. A trilha é marcada por 22 setas de bronze incrustadas nos passeios da cidade com o desenho de uma corujinha. O percurso tem apenas 3 km de extensão e cobre boa parte do Centro Histórico da cidade. A gente pode conhecer com mais profundidade cada uma dessas 22 atrações através de um guia disponível nos hotéis ou no Centro de Visitantes, ou baixando um aplicativo no celular.
O caminho tem um acervo arquitetônico maravilhoso como por exemplo o Palácio dos Duques da Borgonha; as mansões da Rue des Forges e o Jardin Darcy, perfeito para curtir uma parada relaxante. A Trilha da Coruja ainda inclui o mercado projetado por Gustave Eiffel – sim, o mesmo que projetou a torre mais famosa da França – onde você pode degustar delícias da cozinha regional. E é claro que o passeio só termina depois de vermos de perto a tal Coruja.
Assim como jogar uma moeda na Fontana de Trevi, para retornar a Roma, há todo um ritual que o turista deve cumprir para ter um desejo realizado pela corujinha de Dijon. Ao encontrá-la, comece acariciando-a com a mão esquerda, que é a mão do coração. Em seguida, faça o seu pedido, de olhos abertos, olhando para a estátua da ave. Caso contrário, reza a lenda que as gárgulas da igreja – estátuas em forma de seres sobrenaturais que circundam a construção – se apossarão de seu pedido e não deixarão que ele se realize. Pronto! Agora é só esperar para ver se a coruja de Dijon vai atender o seu pedido.
Assim, já podemos sair de Dijon em direção a…
Na Borgonha há uma pequenina vila chamada Rully
A próxima etapa do nosso roteiro pela Borgonha é uma viagem que vai durar cerca de uma hora, mas passa praticamente despercebida, tudo por causa da paisagem que nos cerca. Quase no final do percurso, avistamos um castelo no alto de uma colina. É para lá que nós vamos. Ao nos aproximarmos, temos a impressão de entrar num cenário de filme. Um lago espelha a imagem do castelo e do azul brilhante do céu. Um bosque de salgueiros contorna uma parte do lago e, na outra margem, mais ao fundo é possível avistar alguns dos mais famosos vinhedos da região da Borgonha.
Rully tem cerca de 1.500 habitantes e guarda pequenos tesouros da enogastronomia francesa. Um deles é a vinícola Domaine Ninot. Essa propriedade familiar produz vinhos desde o século 14 e oferece tours de degustação.
A vinícola é comandada por dois irmãos que produzem vinhos brancos – Chardonnay – e tintos – Pinot Noir. Eles são elaborados a partir da viticultura orgânica e, como dizem os franceses, expressam o seu terroir. Em bom português, os vinhos refletem no seu sabor, a sua origem, alma e identidade.
Outro tesouro da região é a Maison Lameloise. A propriedade é uma combinação perfeita de hotelaria com gastronomia premiada. O restaurante da casa pertence a mesma família desde 1921 e ostenta 3 estrelas no Guia Michelin.

Beaune é a Capital dos Vinhos da Borgonha
Um roteiro pela Borgonha deve ser bem apreciado e por isso precisa incluir Beaune. Com pouco mais de 20 mil habitantes, ela é conhecida como a Capital dos vinhos da Borgonha. Como tal, a cidadezinha oferece uma excelente rede hoteleira. E só de restaurantes, são mais de 100! A especialidade da maioria é obviamente a gastronomia típica da Borgonha, cuja característica principal são os cozidos e os ensopados. Dois pratos clássicos que você precisa saborear em Beaune são o Boeuf Bourguignon e o Coq au vin.
O Boeuf Bourguignon autêntico é um ensopado que leva carne bovina – da Borgonha – bacon, cenoura, cebola e cogumelos. O Coq au vin, ou Frango ao Vinho é também um ensopado substancioso, com ingredientes semelhantes ao Boeuf Bourguignon. O molho maravilhoso leva vinho tinto da região em ambos os pratos. Ele é o resultado de uma mistura de ervas, temperos e pelo menos 5 horas de cozimento em fogo baixo.
Beaune é uma cidade vibrante que sedia eventos variados o ano inteiro. De março a dezembro, acontecem os festivais de cinema, de ópera, jazz & blues, de pães, de vinhos e queijos. Em novembro, a cidade promove o mais famoso leilão beneficente de vinhos do mundo, organizado pela casa de leilões Christie’s. Colecionadores, personalidades, celebridades e a mídia mundial se reúnem para ver os lances que costumam ser o termômetro indicador para o mercado de vinhos do ano seguinte.
E se você sonha em se hospedar num castelo, realize o seu sonho em Beaune, ficando no Château de Chassagne – Montrachet. Ali são produzidos alguns dos melhores vinhos da Borgonha. As suítes do castelo são grandes e, como contraponto, têm uma decoração moderna.
Saulieu é para quem procura gastronomia única e requintada
A nossa viagem pela Borgonha está chegando ao fim, mas não podíamos voltar para casa sem antes conhecer – e comer muito bem em Saulieu, a cidade-chave da última etapa do nosso roteiro. A fama do destino ganhou o mundo devagar.
No começo dos anos 1930 era quase um segredo bem guardado pelos franceses que, no caminho entre Dijon e Chablis, paravam para abastecer, às vezes se hospedar, mas certamente comer no restaurante do hotel La Côte d’Or, de propriedade do lendário chef Alexandre Dumaine. Tanto o restaurante quanto o hotel eram simples, mas a comida era divina. A fama da casa foi crescendo e os moradores da cidade acostumaram-se a ver carros como Rolls-Royces, incluindo o de sua Majestade a Rainha Elizabeth da Inglaterra estacionados em frente ao restaurante quase diariamente. O restaurante já era um dos mais prestigiados da França quando o chef se aposentou e a casa perdeu um pouco da sua glória.
No começo dos anos 1980, Bernard Loiseau assumiu o La Côte d’Or e no início dos anos 1990 conseguiu recuperar as 3 estrelas Michelin para o restaurante. Novamente a história se repetiu e Loiseau se tornou um ícone culinário. Seu estilo era a culinária francesa simplificada e cheia de sabor. Loiseau inspirou muitos chefs e ajudou a transformar a alta gastronomia francesa do século 21. Os amantes da alta gastronomia conhecem a história. O tempo passou e, perfeccionista ao extremo, o chef Loiseau, acreditando nos boatos de que seu restaurante perderia uma estrela no unânime guia – o que acabou não se concretizando –, deu fim à própria vida.
Hoje, o hotel Relais Bernard Loiseau e o restaurante La Côte D’Or se transformaram num local legendário, reinando com absoluta majestade em meio a tantos outros estabelecimentos estrelados. O hotel faz parte da consagrada rede Relais & Châteaux, e seu chef Patrick Berton continua mantendo, com maestria, a premiada cozinha do restaurante.
Saulieu é um centro gastronômico construído a partir do legado de chefs visionários que transformaram uma pequena cidade em um destino para quem procura refeições únicas e requintadas.
Roteiro de Compras na Borgonha
Mostarda Dijon
La Moutarderie Edmond Fallot
La Maison Maille
Produtos Trufados em Dijon
Mercados em Dijon
Mercado de Les Halles – Projetado por Gustave Eiffel, é um centro de produtos frescos, vendendo queijos, carnes e especialidades regionais. Aberto às terças, quintas, sextas e sábados pela manhã.
Marché de Gresilles – Funciona às quintas e sábados pela manhã e vende frutas, vegetais e produtos frescos locais.