Bastou ingerir metade de uma xícara, com quase meio litro de café, para pegar o meu prumo novamente
Cafeína! E as luzes ficaram vibrantes e as imagens, super coloridas, muito mais definidas. Bastou ingerir metade de uma xícara, com quase meio litro de café, para pegar o meu prumo novamente. De novo começo a ver a vida com uma nitidez cristalina.
Só que agora, no meu próximo gole, verei a xícara, que está praticamente cheia, como quase vazia…
No 2º andar de uma das dezenas de cafeterias espalhadas pelo centro de Madri, olho para trás e não arrisco mover um centímetro de onde estou, sentada em uma poltrona amiga, que me abraça como se fôssemos apenas ela, eu e mais ninguém. Após enfrentar um dia inteiro de jejum de cafeína e depois de saborear quase meio litro de café, tudo vale a pena. De frente para a beleza da cidade, protegida do gélido final de inverno europeu, assisto o frenético movimento da hora do rush madrileno, transmitido em qualidade melhor que digital, graças ao excelente limpador de vidros da casa.
Do outro lado da rua, 2 cinemas convidam o público a devanear na escuridão. Deveria trocar este instante precioso por um punhado de sonho? Minha pergunta diz tudo.
O sinal vermelho surpreende um motorista que estrangula o freio, faz os pneus gritarem rasgando o asfalto, deixando as pessoas, desorientadas lá embaixo. O barulho da cena atravessa os vidros e me traz de volta à vida real. Hummm… será?
Realidade para mim é o calor do meu país tropical onde, nesta mesma hora, os congestionamentos multiplicam-se enervando a alma dos motoristas, felizardos por saírem de algum trabalho, qualquer que seja, afinal estamos falando de Brasil. Pais e mães buscando seus filhos na escola, o rádio ligado só para relaxar, mas nem tanto, para não ser pego de surpresa por algum assaltante esperto no sinal. Os vidros fechados neuroticamente até o topo e o ar condicionado nas alturas.
Lá fora, em Madri, o sinal fica verde de novo e as pessoas começam a entrar no cinema. Definitivamente isso aqui não é vida real. É apenas uma viagem.