Como muitas pequenas vilas e comunidades dos Alpes Suiços, a localidade de Corippo experimentou décadas de perda de moradores à medida que gerações mais jovens se mudaram para cidades maiores para estudar, trabalhar e – o que é compreensível – ter uma ativa vida social.
Agora, a luta de Corippo é para não desaparecer e se tornou uma questão de vida ou morte, explica o prefeito Claudio Scettrini, um dos 16 habitantes e que se apresenta como o único que trabalha, ‘os demais são aposentados. Eu espero que eles vivam até os 90 anos, caso contrário não sobrará ninguém aqui. É realmente trágico."
A comunidade de Corippo existe há mais de 600 anos. No século 19, a vila tinha 300 habitantes. Hoje Corippo não tem mercado, escola ou crianças. Fica a apenas 30 minutos de carro da movimentada Locarno, mas a estrada estreita e cheia de curvas não é um caminho favorável para que os visitantes venham.
O tradicional cultivo agrícola nas montanhas foi se tornando cada vez menos viável. Economicamente, o pequeno vilarejo busca outras opções, e aí entra o turismo como fator de recuperação. Corippo tem mais de 60 casas de pedra tradicionais, com telhados de pedra seca, muitas com lareiras e piso de madeira originais. E a maioria delas está vazia.
‘Pode ser uma oportunidade’, diz o diretor de turismo do cantão suíço de Ticino. "A vida em Corippo e em vilas similares é especial. é como se transportar para outro século. O tempo desacelera, todo mundo se conhece e você sente a autenticidade da vida", considera.
Com o apoio de uma fundação dedicada a preservação, um plano foi desenvolvido: transformar algumas das casas vazias em quartos de hotel. O conceito, conhecido como albergo diffuso (ou "hotel difuso"), já foi testado em algumas vilas em montanhas na Itália, mas esta deverá ser a primeira vez na Suíça.
Toda a vila de Corippo está protegida como um monumento histórico, muitas das casas estão intocadas desde a década de 1950 – alguns moradores emigraram para os Estados Unidos e outros simplesmente morreram, ninguém para limpar as propriedades.
Roupas velhas, cartões postais e garrafas de vinho se espalham pelo chão. As paredes estão úmidas e empoeiradas. Não há sinal de água corrente nem de vaso sanitário. Vai dar um bom trabalho de ajuste.
Na adaptação, as portas originais serão mantidas, as madeiras e pedras originais também devem ficar. A experiência dos hóspedes deverá ser similar à vida no século 19
Os 16 habitantes de Corippo, entre eles o prefeito Scettrini, estão depositando esperanças nessa ideia do turismo. Mas eles estão determinados que sua vila não se transforme em um parque temático – os hóspedes vão conviver lado a lado com os moradores, o bar local será transformado em uma recepção de hotel informal, com a praça funcionando como um saguão ao ar livre.
Os poucos turistas que circulam de quando em vez pelas vias vazias de Corippo também parecem apoiar a ideia. "Se você quer desligar, pode ser relaxante ficar aqui por alguns dias", diz um destes passantes. "Talvez se você tiver que escrever um livro ou algo assim', afirma Giacomo Gianninni, que pretende passar férias na região.
"Esse é o lugar perfeito para o que chamamos de detox digital", diz ."É uma nova tendência. No século 21, a autenticidade será considerado o novo luxo. Ter um lugar onde você possa sentir a história do local, onde você possa deixar seu celular de lado. Isso é real, não é falso, há séculos de história aqui."
Bem próximos estão os resorts à beira de lagos, em Locarno e Lucano, conhecidos como a "Riviera suíça" e dali deverão sair muitos dos próximos visitantes de Corippo.
Os planos, porém, ainda levarão um tempo para a sua execução. Nada ficará pronto em pelo menos um ano. O bom é que as primeiras reservas já estão sendo feitas, no exemplo do turismo de experiência que é a grande tendência mundial.