Essencial é que ela seja boa; o resto é supérfluo
Hoje eu não vou escrever sobre simplesmente o ir e vir de um ponto a outro no globo terrestre e sim sobre a mais bela de todas as jornadas; aquela que nós chamamos de vida – afinal, viver é viajar e, claro, viajar é viver.
Durante quase 30 anos aterrissando e decolando mundo afora, acabei por perceber que são as coisas mais simples que surgem pelo caminho as que me fazem mais feliz. Não preciso daquela bolsa que brilha na vitrine, mas sim de dormir bem; nem da roupa de grife, mas de um casaco que me proteja do frio. Não é do Home Theatre que sinto falta, mas sim da música que escuto fugindo pela janela, enquanto desço uma ladeira calçada de pedras.
Numa dessas coincidências, que prefiro chamar de inevitabilidade, caiu em minhas mãos o livro Goodbye Things, de Fumio Sasaki. Combinado com esse momento da minha jornada, a obra do autor japonês criou uma combustão de pensamentos. A partir daí, uma reação em cadeia ampliou o meu olhar. O livro aborda a filosofia minimalista aplicada às nossas vidas, mas resumindo-o bem no espírito desta filosofia, diria que é um tratado sobre felicidade.
Num primeiro momento, entre uma decolagem e outra, comecei a limpar armários e me desfazer do que não era essencial à minha viagem neste mundo. E neste processo, fui além dos itens materiais. Num segundo momento, saí da minha zona de conforto e me desfiz de grande parte do que construí na vida, para reconstruí-la com uma nova fundação, que descansa sobre a inabalável rocha do que, para mim, significa felicidade.
Sei que tenho ainda um longo caminho pela frente até me desfazer de tudo o que deixou de ser importante. Os anos de acúmulo sendo desfeitos têm despertado uma sensação prazeirosa. É claro que aqui e ali surge o apego, que é também bom. A constatação me faz pensar e me conhecer melhor. E me impulsiona a continuar dizendo adeus às coisas. Para dizer o mínimo, estou fora da minha zona de conforto.
Tantas idas e vindas me mostraram que posso ser feliz com pouco, cercada das pessoas indispensáveis. A vida pode caber em uma mala de 23kg. O resto é supérfluo. Essencial é que ela seja boa.