Depois de sair do Texas e atravessar de carro os estados da Louisiana + Mississippi + Tennessee, entrei na Georgia
Diário de Viagem, 10 de outubro de 2018
Acabei de entrar na Georgia, o 5º estado deste roteiro incomparável. Até chegar em Atlanta, saí do Tennessee, dirigindo o Kia verde, da Hertz e ouvindo Elvis Presley. A Trilha dos Direitos Civis me guiou diretamente a um período da história, no qual a música negra cantada pelo Rei do Rock’n Roll simbolizava tudo o que os sulistas mais temiam: a miscigenação racial.
E assim, percorrendo estradas que me conduzem a novas descobertas cheguei à capital do estado da Georgia, a Terra Natal de Martin Luther King Jr. A Trilha dos Direitos Civis colocou, no mesmo caminho, Elvis e o Dr. King.
Visita ao Martin Luther King Jr. National Historical Park
Ontem eu deixei o carro da Hertz descansando no hotel e caminhei cerca de 40 minutos, até chegar a um Parque Nacional inteiramente dedicado ao Dr. King.
E aí faço a 1ª sugestão a você, que quer ter uma experiência completa no destino. Todos os Parques Nacionais norte-americanos têm carimbos com desenhos próprios para o visitante estampar o seu passaporte. Se você acredita que o documento pode ser também um caderninho de boas recordações, traga o seu.
Faltando alguns metros para chegar, uma grande bandeira dos Estados Unidos cercada pelas bandeiras dos Parques Nacionais norte-americanos marcava com honras o meu destino final.
Logo na entrada do Martin Luther King Jr. National Historical Park, me deparei com uma estátua de Mahatma Gandhi. Parecia que a qualquer momento o líder e ativista indiano iria descer do pedestal e seguiria caminhando pelo calçamento.
No piso estavam gravados os nomes e as marcas dos passos das mulheres e dos homens que, assim como Gandhi, praticaram o Satyagraha, o movimento de resistência não violento.
Bastou entrar no edifício para ser transportada novamente para a década de 1960. Me vi cercada por todo tipo de mídia e tecnologias. Vídeos, fotos, gravações de áudio com o testemunhal de pessoas que participaram do movimento e, principalmente, muitas imagens, discursos e documentários sobre a atuação de Martin Luther King Jr. na luta pelos Direitos Civis. Os fatos históricos se sucediam, simultaneamente nas diversas salas e alas do complexo.
Visões emocionantes
Do outro lado do quarteirão visitei a Ebenezer Baptist Church, igreja na qual Martin Luther King, ao lado do seu pai, atuava como pastor. Caminhei pelos jardins do The King Center – The Martin Luther King Jr. Center for Nonviolent Social Change – o Centro King pela Mudança Social Através da Não Violência, onde os túmulos do casal King – Martin e Coretta -, flutuam sobre a água. O espelho d’água dividia-se em níveis e, em cada degrau, um trecho de uma das famosas frases ditas por Martin Luther King Jr. estava impressa:
“We will not be satisfied until justice rolls down like waters and righteousness like a mighty stream.”
“Nós não estaremos satisfeitos até que a justiça jorre como água e a retidão como uma poderosa corrente” (em tradução livre)
Martin Luther King Jr.
O dia estava nublado e uma fina e fria garoa lembrava a chegada do outono. Sentei em um dos bancos do parque, de frente para pira que marcava com o fogo eterno o espaço sagrado. Do outro lado havia uma inscrição no piso = The dream lives – The legacy continues (O sonho vive – O Legado continua).
Naquele momento fiz uma pausa para organizar as emoções. Tudo o que acabara de ver tinha uma importância universal. A história da luta pelos Direitos Civis acontece diariamente em todas as esquinas do mundo. Mas apenas no Sul dos Estados unidos ela é contada e mostrada em todos os detalhes, algumas vezes belos e muitas vezes cruéis. Uma história que todo mundo precisa conhecer e compartilhar.
De todas as imagens fortes desta visita, a que vejo na minha frente, agora, é a da carroça tosca e pesada. Unida com pregos grossos e tortos enfiados nas tábuas de uma madeira grosseira, o resultado era um meio de transporte extremamente rudimentar. Mas aquela carroça foi resistente o suficiente para carregar todo um simbolismo, junto com o corpo de Martin Luther King Jr., no dia do seu funeral.
Atlanta é uma cidade de referência na Civil Rights Trail
Desde que comecei a fazer a Trilha dos Direitos Civis, tenho sentido a importância que esta história tem para as pessoas que a apresentam a mim. Na prática, isso é traduzido em pequenos detalhes, que fazem uma diferença absurda. Até os hotéis onde me hospedo, têm uma relação histórica com o movimento dos Direitos Civis.
Aqui em Atlanta por exemplo, estou hospedada no The American Hotel, que fica no Centro da cidade, ponto nevrálgico da luta contra a segregação racial na década de 1960.
Pois o The American preservou toda a sua arquitetura e mobiliário original, dos anos 1950 e 1960. A decoração interna ressalta o tema e a época através de uma galeria de fotos em Preto & Branco. Elas mostram as personalidades que viveram ou visitaram a cidade naquele período. Vi imagens de Martin Luther King, da atriz Jane Fonda participando de protestos, de Mohamed Ali, Elvis Presley, e vários retratos da cidade tomada por passeatas.
O cenário se manteve tão fiel que parecia que a qualquer momento os ativistas iriam entrar pela porta giratória.
Almocei com Victoria Lightfoot, do Turismo de Atlanta, também em um restaurante de contexto histórico. Trata-se do Paschal’s, famoso pela sua receita de frango frito e por ser uma espécie de escritório extra oficial de Martin Luther King na cidade.
Por fim, visitei o Centro Nacional dos Direitos Humanos e Civis onde está a coleção pessoal de papéis, documentos e objetos do Dr. King. A nobre madeira que forra as paredes da sala tem gravados, em baixo relevo, frases e pensamentos de Martin Luther King.
Não é permitido fotografar ou filmar no interior da sala o que é maravilhoso. Você se vê cercada pelo silêncio e os discursos de Martin Luther King registrados em caligrafia bem desenhada ou datilografados em frágeis folhas de papel, já amareladas pelo tempo.
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