Livro traz relatos de 2 britânicas + 1 francesa que viajaram pelo país e registraram as suas impressões
Viajantes, tanto na literatura quanto no na história é um papel masculino. A visão do homem, seja ele um aventureiro, um estudioso ou um explorador, é a que prevalece. Hoje, cada vez mais mulheres embarcam em viagens solo para escrever sobre suas vivências pelo planeta. Ainda assim, é bom saber que sempre existiram mulheres que registraram suas impressões de viagem e criaram clássicos da literatura.
Uma das mais famosas escritoras viajantes foi a suíça Isabelle Eberhardt, que nasceu no final do século 19 e decidiu viajar sozinha pela África para conhecer outras culturas e escrever cada detalhe do seu périplo pelo continente. Para se proteger, e ao mesmo tempo, para se sentir mais livre a autora costumava usar trajes masculinos. Ela bebia, fumava e cavalgava com os homens. Assim, conheceu e um jovem oficial e se casou.
Outras viajantes europeias escolheram o Brasil como pano de fundo para suas obras
O livro Mulheres Viajantes no Brasil (de 1764 a 1820) traz relatos das britânicas Jemima Kindersley, Elizabeth Macquarie e da francesa Rose Freycinet, que viajaram e escreveram suas impressões sobre a paisagem, a geografia e a cultura do país. O olhar dessas mulheres tem, em comum, o padrão colonizador europeu. Como quando Jemima Kindersley registra sua chegada a Salvador, em 1764:
Creio que não sou uma mulher muito perspicaz, pois, de outro modo, teria me apercebido de que as coisas nem sempre são o que parecem ser e teria evitado surpresas desagradáveis. Refiro-me a cidade de São Salvador, a qual, como certas coisas que causam prazer somente quando vistas à distância, quanto mais nos aproximamos, menos bonita aparenta ser.
Já Elizabeth Macquarie, exulta a natureza do Rio de Janeiro, em 1809:
Nenhuma descrição pode dar à pessoa que nunca pôs os olhos neste porto, uma boa ideia da sua admirável beleza e grandiosidade. A entrada, a meu ver, é a mais bonita do mundo.
A Macquarie, entretanto, faz questão de observar que:
O Rio de Janeiro não é pois, somente privilegiado pela natureza, já que muitos de seus adornos são produtos da arte dos homens. Embora os portugueses pareçam ter grande inclinação para a indolência, os inúmeros melhoramentos aqui levam a pensar se tal impressão realmente tem procedência.
Durante a viagem que fez em 1817 ao Rio de Janeiro, Rose Freycinet fez um instantâneo sobre o grau de urbanidade da cidade, naquela época.
Ao desembarcar, fomos pegos por uma tempestade pavorosa. (…) O escoamento das águas no Rio de Janeiro é tão ruim que basta chover um pouco mais forte para as ruas ficarem tomadas por meio metro de água. Durante meia hora caminhamos com a água pelo joelho.
Este é o poder da literatura de viagens: transportar os leitores para destinos e épocas tão diferentes quanto distantes, seja em tempo ou espaço. Boa leitura para você.